“Cópia Fiel” cai na armadilha de sua legitimidade

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Em recente entrevista ao jornal carioca O GLOBO, o cineasta iraniano Abbas Kiarostami disse que “no amor, o poder pertence à mulher”. Em Cópia Fiel, seu mais recente filme que causou grande discussão em sua passagem pelo Festival de Cannes, ano passado, essa máxima se confirma pela força e humanidade de Juliette Binoche, que saiu com a Palma de Ouro de Melhor Atriz.
O filme se desenrola quando um escritor inglês (o barítono Willian Shimel), em turnê promocional de seu novo livro pela Itália, aceita o convite de uma francesa (Binoche) para passear pelas ruas da comuna de Lucignano, no ínterim que tem para embarcar de volta para casa. O tal livro de Shimel é um ensaio sobre a importância da cópia de obras de arte na cultura e essa teoria se expande para a cerne dos questionamentos e diálogos que os dois promovem durante todo o longa.

Kiarostami, talvez o mais importante cineasta do complicado Irã, por trás do premiadíssimo O gosto da cereja, leva essa metáfora como oriente para sua linguagem narrativa: se a arte é compreendida de acordo com a interpretação de cada um qual a importância se a obra é real ou não? Se num primeiro momento acompanhamos o desabrochar de uma possível relação entre duas pessoas marcadas por experiencias de vida distintas, depois a história toma um outro rumo inesperado e os atores do discurso se colocam de forma totalmente contrária.
Essa construção narrativa proposta pelo cineasta é interessante na forma mas no prática o filme fica a mercê do violento carisma de Juliette, que devora suas cenas com uma fome cênica insuperável. Mas o intuito do filme é frágil diante de um excesso discursivo de idéias que perdem força diante de todo o resto, seja a paisagem bucólica da região italiana ou sejam as esparsas participações de coadjuvantes que alimentam o contraste entre os dois.
A vulnerabilidade de Binoche talvez seja o grande acerto de todo o conjunto de digressões que o filme se torna. Mas é na própria proposta de seu sentido que a produção se contradiz: se a absorção de uma obra depende sempre de um ponto de vista, porque tornar a obra uma intenção daquilo que se discute? Cópia Fiel acaba sendo um arremedo do olhar do diretor, não uma obra para cada um imprimir o seu olhar.

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