O cinema argentino experimentou nos últimos dez anos um crescimento bem semelhante ao que se viu no Brasil nos anos noventa. Justamente no período de maior crise econômica, a produção cinematográfica dos hermanos se consolidou entre as mais relevantes na América latina ganhando muita projeção aqui no Brasil, com filmes como O filho da noiva, que alavancou uma onda de interesse pelo que acontecia ali no Rio da prata.
Alguns motivos para não se apaixonar (motivos para no enamorarse) do diretor Mario Mucci (do sugestivo El boquete), com estreia hoje no Rio de janeiro, é mais um exemplar dessa atual leva da terra de Gardel. A trama mostra uma operadora de telemarketing, descontente com sua vida profissional e amorosa, que se envolve com um homem misterioso, solitário e bem mais velho que a hospeda após um incidente com a chave do apartamento onde a moça mora. A premissa é bastante manjada, inclusive as diferenças, o conflito de gerações aparentemente sem solução, mas que se revertem em paixão estão lá.
Porém, no decorrer da película, a personagem central geral uma empatia tamanha que é impossível não torcer por ela. Seja você homem ou mulher, provavelmente já se viu naquele contexto no qual tudo parece estar fora do seu devido lugar na vida e a única luz no fim do túnel é um trem vindo na direção contrária. O filme é basicamente sobre solidão e o medo que ela nos causa, além do paradoxo de estarmos próximos e ao mesmo tempo distantes, o que dificulta ainda mais a naturalmente árdua tarefa de se encontrar a cara-metade. Mas tudo isso pintado com as cores quentes típicas do cinema latino, que não foram economizadas pelo diretor de fotografia Andrés Mazzon, e com a sutil linha que separa o drama da comédia nessas produções.
Alguns motivos para não se apaixonar não traz surpresas, mas faz uma simpática reflexão sobre a busca de realização plena, não só amorosa, nos dias atuais.
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