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Crítica: “Caminhos da Floresta” carece de boa musica para se sustentar como musical

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“Into the Woods” é um musical com música de autoria de Stephen Sondheim e libreto de James Lapine. Inspirado no livro “The Uses of Enchantment” de Bruno Bettelheim. O espetáculo estreou em 1986 no Old Globe Theatre em San Diego. A chegada à Meca dos musicais de língua inglesa, a Broadway, se deu em 05 de novembro de 1987. “Into the Woods” venceu vários prêmios Tony, incluindo Melhor Trilha Sonora, Melhor Libreto e Melhor Atriz em Musical (Joanna Gleason), concorrendo com o favorito “O Fantasma da Ópera”. O musical teve diversas montagens, ganhou uma turnê pelo território americano em 1988, uma montagem na londrina West End em 1990 e uma produção para a TV em 1991. Em 1997 houve uma montagem comemorativa de 10 anos da estreia na Broadway e revivals em 2002 e 2010 em Nova York e Londres respectivamente.

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Agora chega a versão cinematográfica, com nomes como Meryl Streep e Johnny Depp encabeçando o elenco de uma superprodução sob a batuta da Disney. “Caminhos da Floresta” (Into the Woods, EUA/2014) segue a mesma sinopse do musical: um padeiro (James Corden) e sua esposa (Emily Blunt) desejam gerar uma criança, mas sofrem com uma maldição colocada sobre a família do padeiro por uma bruxa que encontrou o pai deste roubando verduras de seu jardim. Também foram roubados por ele alguns grãos de feijão que causaram uma punição para a bruxa: a maldição da feiúra. Para acabar com a maldição que os acomete, ela encomenda ao casal quatro itens específicos: uma vaca branca como leite, uma capa vermelha como sangue, cabelo amarelo como o milho, e um sapato de ouro. Assim, a jornada do casal encontra interseção nas clássicas histórias de “João e O Pé de Feijão”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel” e “Cinderela”.

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Uma coisa já é sabida: nem todo musical do teatro funciona bem no cinema. São linguagens distintas. Temos sucessos dos palcos que tiveram resultado constrangedor no celulóide justamente porque transpuseram literalmente, ou quase, o que era encenado nos espetáculos. Esse é o grande problema de “Caminhos da Floresta”. O diretor Rob Marshall tem um histórico de adaptações teatrais para o cinema. Debutou com uma versão telefilme de “Annie”, ganhou o Oscar com “Chicago” e assinou a nem tão bem sucedida adaptação de “Nine”. Na presente produção, a condução do fio narrativo é até eficiente, apesar do trabalho de direção quadrado e da amenização do tom sombrio original (afinal é um filme da Disney), mas o que compromete é que as canções não têm força para sustentar 125 minutos.

A diferença em relação a Chicago é que o filme de 2002 se apropriava de um musical em que os números musicais tinham qualidade. Já em ‘Caminhos’ as músicas apresentam uma redundância enfadonha, se os diálogos cantados fossem falados surtiria um efeito bem mais satisfatório. Para os detratores do gênero, o filme é um verdadeiro suplício, e corrobora com sua tese de que não há nada mais ridículo do que pessoas que do nada começam a cantar. É exatamente nisso que se baseia “Caminhos da Floresta”. Contudo, a película apresenta alguns trunfos como a direção de arte e os figurinos, não a toa, indicados ao Oscar. A atuação de Meryl Streep (a única indicação não técnica do filme) é apenas ok, embora seja uma das melhores coisas do filme. Quanto a Johnny Depp e Chris Pine, os outros nomes mais populares do elenco, estão canastrões como se não levassem a sério o que estão fazendo.

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O que fica bastante claro no final é que “Caminhos da Floresta” é uma lição de que nem todo musical pode ser adaptado para o cinema, pelo menos não de forma literal. Há de se ter uma música realmente boa, para que surta um efeito parecido com o da matriz teatral.  Por hora, a melhor opção para os amantes de contos de fada talvez seja mesmo a série “Once Upon A Time”.

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1 Comentários

  • É impressionante como uma mesma obra de arte pode causar
    efeitos tão antagônicos nas pessoas. Particularmente, gostei muito do filme,
    como já gostava demais da peça. Bomba pra mim foi a catástrofe que Tim Burton
    fez de Sweeney Todd, outra masterpiece teatral de Sondheim (Carece de boa música? Você só pode estar brincando). Escrita nos anos
    80, portanto muito antes desta onda de reinterpretação dos contos de fadas, a
    história fala, na verdade, sobre os ritos de passagem da alma humana. Do que se
    deseja ao que se alcança, da infância à vida adulta, da ilusão da fantasia ao
    choque da realidade. De como criar seus filhos, do que dizer a eles, de tentar
    protege-los do mundo. Que aliás é o que tenta fazer A Bruxa com sua filha
    adotiva Rapunzel. À principio uma vingança que se transformou num laço de
    afeto. A superproteção de uma mãe insegura. O final desta mesma Bruxa se dá
    quando ela resolve assumir todas as culpas das personagens ditas
    “inocentes” na história e assim, num misto de cólera e auto
    sacrifício, implode-se diante de todos. Com algumas poucas diferenças do texto
    da peça, Into The Woods para mim ainda é uma obra inquietante. Daquelas coisas
    que só serão reconhecidas talvez daqui a alguns anos ou décadas. Não seria
    primeira vez, nem a ultima no mundo das artes.

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