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Crítica: "Fúria" desperta fúria no espectador

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Nicolas Kim Coppola adotou o nome artístico Nicolas Cage justamente para não ser frequentemente associado ao tio poderoso. O sobrinho do diretor Francis Ford Coppola iniciou sua carreira aos 17 anos no telefilme Best of Times de 1981, ainda usando seu nome de batismo. Atuou também em filmes do tio como “Cotton Club” e “Peggy Sue – Seu Passado a Espera”. Nos anos noventa, passou por uma fase em que era figurinha fácil e blockbusters de ação como “A Rocha”, “Con Air” e o melhor filme do gênero daquela década, “A Outra Face”, mas também integrava o elenco de filmes dramáticos (“Despedida Em Las Vegas”) e romances açucarados (“Cidade dos Anjos”).
A partir de 2000, provavelmente por culpa de agentes incompetentes, o ator começou a se alternar entre filmes razoáveis (“A Lenda do Tesouro Perdido”), alguns até bons (“Adaptação” e “Senhor das Armas”) e verdadeiros lixos (“60 Segundos”, “Motoqueiro Fantasma”).
“Fúria” (Rage, EUA/2014) configura o terceiro time. No filme, Cage é Paul McGuire, um empresário de respeito que na juventude se envolveu em ações criminosas. Hoje procura manter uma pacata vida em família. Porém, sua tranquilidade é abalada pelo desaparecimento de sua filha Caitlin. Com isso, Paul reúne seus amigos, antigos comparsas, e vai à caça dos principais suspeitos, os líderes da máfia russa.
A impressão que fica durante a projeção é que a ideia dos roteiristas Jim Agnew e Sean Keller, junto com o diretor Paco Cabezas, era realizar um thriller de vingança estilo clássico seguindo a linha de “Desejo de Matar” com uma roupagem de “Carga Explosiva”. A combinação não deu certo, justamente pela aglutinação de clichês narrativos e visuais. Os realizadores apresentam tudo que já fora visto em filmes do gênero: lutas, tiros e perseguição de carros, mas sem nenhum frescor. Trata-se de um produto genérico, daqueles que se vê no Domingo Maior.
A direção se equivoca de forma constrangedora nas cenas mais dramáticas, enquanto o roteiro traz reviravoltas infelizes e a solução do caso ao final da trama é revoltante. E isso dentro de um argumento que se bem desenvolvido até poderia render um filme interessante, mas o diretor e os roteiristas dão aqui uma verdadeira aula de como se arruinar um filme de Ação.
Nicolas Cage possui uma característica camaleônica, muda de acordo com o que lhe é apresentado. Se a trama é boa, a atuação vai bem. Se a trama é ruim, ele parece se esforçar para ser ainda pior. É o caso aqui. Do primeiro ao último frame ele promove um sombrio espetáculo de vergonha alheia. A Danny Glover, que interpreta o detetive Peter St. John, não resta muito o que fazer, a não ser tentar se salvar do desastre com uma certa dignidade e sem muitos arranhões. Até consegue.
A recomendação a Nicolas Cage é que troque urgentemente de agente, ou melhor: suma por uns tempos, para retornar como um ator cult, a exemplo de John Tavolta e Harvey Keitel. Já para o diretor e os roteiristas o conselho é tomar umas aulas com William Friedkin, realizador de “Operação França” e do recente (e excelente) “Killer Joe”. Seria uma aprendizagem e tanto.
Por fim, este “Fúria” faz jus ao título pois também desperta a fúria do espectador.

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