Crítica: “Mad Max: Estrada da Fúria” arrebata como obra rara no cinema de ação

Crítica: "Mad Max: Estrada da Fúria" arrebata como obra rara no cinema de ação – Ambrosia

Há exatos 30 anos, era lançado em todo o mundo “Mad Max: Além da Cúpula do Trovão”, a terceira parte da saga futurista que mostrava uma Austrália devastada pela escassez de gasolina e outros recursos naturais e por violentas criaturas que surgiram após essa crise. Neste mundo aterrador, surgia o ex-policial Max Rockatansky, que após perder sua família (no primeiro filme da série, de 1979) tentava superar seu trauma e sobreviver em meio ao caos. A produção de 1985, que tornou ainda mais conhecidos os nomes de Mel Gibson (que se tornou um dos maiores astros do cinema, mas que tem sido mais lembrado nos últimos anos por suas posturas controversas) e o diretor George Miller, hoje é mais lembrada pela participação da cantora Tina Turner e a música-tema “We don’t need another hero”. Felizmente, esse longo hiato foi suficiente para mostrar que o universo mostrado por Miller ainda é relevante e capaz de conquistar uma nova geração com o mais recente capítulo, “Mad Max: Estrada da Fúria” (“Mad Max: Fury Road”), que contém as mais insanas e emocionantes cenas de ação já vistas nos últimos tempos.

Apresentada como uma mistura de continuação e reboot, a trama mostra Max (agora interpretado por Tom Hardy) ainda agindo como o Guerreiro da Estrada (alcunha que ganhou no segundo filme da série) no deserto australiano. Porém, ele é capturado por um grupo de selvagens e levado para um lugar chamado de Cidadela, que é comandada com mão de ferro pelo temido Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), que usa seus reservatórios de água para controlar os seus habitantes. Lá, Max é transformado numa espécie de doador universal de sangue para os War Boys, os ‘soldados’ do exército do tirano. As coisas mudam quando a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), um dos membros mais confiáveis de Joe decide realizar uma fuga arriscada, levando jovens que servem como ‘esposas’ e parideiras do líder, incluindo Angharad (Rosie Huntington-Whiteley), que está grávida do vilão, e Toast (Zoë Kravitz). Obviamente, o ditador não gosta nada disso e faz com que seus asseclas partam com tudo para capturá-las. Um deles é Nux (Nicholas Hoult) que, louco para entrar em ação, mesmo enfraquecido por uma doença, resolve levar Max para que o abasteça de sangue durante a caçada. A partir daí, o destino do ex-tira se cruza com o das jovens e belas fugitivas e o grupo tem que lidar com situações cada vez mais arriscadas para chegar ao seu destino e sobreviver.

O que salta aos olhos em “Mad Max: Estrada da Fúria” é a coragem e a ousadia de George Miller em conduzir o filme com um vigor incrível e surpreendente para quem achava que a franquia não tinha mais nada a dar para o grande público. Com cenas de ação e perseguição que deixam as mostradas em produções recentes como “Velozes e Furiosos 7” e “Vingadores: Era de Ultron” comendo poeira, a obra, notadamente, é um legítimo “filme de diretor”, onde se vê a mão de seu realizador em boa parte da história. Além disso, o veterano cineasta de 70 anos se mostra bastante audacioso neste mundo politicamente correto que vivemos hoje e não se furta nem de sacrificar personagens que seriam poupados em outros filmes, em nome da “diversão leve” e da bilheteria. Outro mérito de Miller é que ele mantém o ritmo acelerado em boa parte de seus 120 minutos de duração, com uma sequência mais insana do que a outra, em especial uma que ocorre durante uma tempestade de areia e a alucinante parte final. Vale destacar também a ótima fotografia de John Seale (vencedor do Oscar de 1997 por seu trabalho em “O Paciente Inglês”), que retrata as belíssimas locações na Namíbia, que se passaram pela Austrália desolada do futuro, de uma maneira que ressaltou o clima árido da região e também soube empregar muito bem o 3-D. Além disso, o excelente resultado também se deve à edição notável de Jason Ballantine e Margaret Sixtel, que tiveram mesmo muito trabalho para montar as incríveis cenas idealizadas por Miller

No entanto, há alguns pequenos detalhes que impedem o filme de ser totalmente perfeito. Um deles é o roteiro, escrito pelo diretor, Brendan McCarthy e Nico Lathouris, que possui uma história muito simples, sem grandes desenvolvimentos, embora construa muito bem seus personagens, especialmente a Imperatriz Furiosa e Nux, e tenha achados interessantes, como chamar o bem mais precioso de Immortan Joe de Aqua Cola. Porém, o texto peca justamente em seu protagonista, já que torna Max praticamente um coadjuvante em boa parte da trama e não dá espaço para que Tom Hardy consiga ter uma atuação mais marcante, ainda mais pelas poucas falas que diz no filme, marca registrada do herói. Além disso, surge lá pelas tantas, um romance meio forçado entre dois personagens que não chega a fazer muito sentido e poderia ser cortado sem maiores problemas para a narrativa. Outra coisa que incomoda é a trilha sonora assinada por Junkie XL, que copia, na maior cara de pau, trechos dos trabalho feitos por Hans Zimmer em “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e “O Homem de Aço”. Mas, ainda assim, a música realmente empolga e só peca mesmo por não ser mais original.

No elenco, o principal destaque vai mesmo para Charlize Theron, que, ao contrário de Hardy, tem sua personagem muito bem elaborada e se sai bem tanto nas cenas de ação quanto nas dramáticas, além de conseguir tornar crível os motivos para as ações da Imperatriz Furiosa. Outro que também impressiona é Nicholas Hoult, que aparece quase irreconhecível como Nux e convence em seus momentos mais insanos, especialmente quando acredita que é uma glória viver e morrer pelo seu líder, assim como quando muda de comportamento durante a trama, ao confrontar novas situações. O veterano Hugh Keays-Byrne, que também foi um dos criminosos do primeiro “Mad Max”, volta com um personagem totalmente diferente e, embora esteja coberto com uma máscara o tempo todo, consegue realmente intimidar como o vilanesco Immortan Joe. Já a bela Rosie Huntington-Whitely tem o mérito de soar mais convincente aqui do que em “Transformers: O Lado Oculto da Lua”, assim como Zöe Kravitz, que não tem muito tempo em cena para mostrar um bom trabalho, mas não compromete.

Com um sensacional design de produção, em especial na criação dos veículos e no visual dos personagens, “Mad Max: Estrada da Fúria” prova que, definitivamente, a criação de George Miller ainda tem muito a mostrar, especialmente para a geração que não conheceu os filmes anteriores, e é capaz de mostrar que o futuro não é mais como era antigamente, como dizia Renato Russo. A produção tem o mérito de deixar o espectador ansioso para a próxima aventura de Max Rockatansky que, esperamos, não leve mais 30 anos para ser realizada.

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Comentários 4
  1. Tô muito curiososo, embora um pouco receoso. “História muito simples, sem grandes desenvolvimentos”, “Max praticamente um coadjuvante em boa parte da trama”. Hmmmm :/

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