Ainda que o gigante cineasta Steven Spielberg, sobretudo a partir desse século, tenha entrado num limbo de dez anos de notória irregularidade em seus filmes, ele ainda é um exímio contador de histórias e preciso no domínio cinematográfico.
Entre seu filmaço Munique (2005) e o ótimo Ponte para Espiões (2015), foram alguns anos de resultados aquém de sua costumeira eficiência, já que filmes como seu último Indiana Jones, Lincoln e Cavalo de Guerra, por exemplo, foram claras decepções. Ainda que até ano passado, com o injustiçado West Side Story, ele tenha cometido bombas como O Bom Gigante Amigo e Jogador N1, a gente sempre soube que Spielberg era o Spielberg que remodelou a Indústria com seu olhar e seu tino de fazer cinema. Os Fabelmans é sua melhor resposta para esses anos 2000. Esqueça essa tendência – muitas vezes egóica, de diretores em busca de seu Amacord felliniano.

O olhar do diretor aqui está justamente numa memória afetiva sob o prisma do cinema que tanto o justificou pessoalmente. Sam Fabelman (Gabriel Labelle, ótimo) foi uma criança e é um adolescente fascinado pela magia de realizar o que entende por cinema. Sua família, tipicamente judia dos subúrbios americanos das décadas de 50 e 60, parece abraçar essa sua paixão, com veemência pela mãe, uma complexa e notável composição de Michelle Williams e hesitação amorosa pelo pai (Paul Dano, num registro bem diferente do que costuma fazer e ser escalado).
O roteiro entremeia essa família pelo afeto aparentemente reinante ali, e através de suas contradições, apontadas com olhar demasiadamente humano. A grande força do filme reside no olhar desse adolescente sobre o meio que o cerca refletido no poder da imagem que tanto fascina esse protagonista.

O poder e a lirismo da imagem rege todo o filme. Spielberg brinca com isso o tempo todo e assim, comove. Existe aqui e ali, aquela sensação que sempre permeia os filmes do diretor de um certo viés manipulativo na narrativa. Aqui, por mais que as vezes parece que a história vai descambar para a generalidade disso (sobretudo no momento high school da trama), logo entendemos que o que Spielberg quer é se valer de seus signos juvenis para acampar uma lógica cada vez mais dimensionada da importância do cinema na sua vida.
Por mais longo que o filme seja (e é), o que ele reserva para seu final resume bem o quanto Os Fabelmans é um testamento definitivo do cineasta para seu ofício apaixonado e para o cinema como sentido de uma vida.









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