Crítica: “Terremoto: A Falha de San Andreas” desmorona em clichês, mas diverte

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O cinema-catástrofe, que se tornou muito popular, especialmente, na década de 1970 (e pegando um pouco da de 1980) sempre foi algo que instigava o grande público, pois gerava um estranho fascínio de ver uma cidade (ou mesmo um país ou quem sabe o mundo) sendo completamente destruída diante de seus olhos, graças a algum tipo de força terrena ou mesmo alienígena. Além disso, esse tipo de produção geralmente é estrelado por atores conhecidos e populares, o que levava o espectador a torcer por eles para que sobrevivessem, não importa em que condição.

Nos últimos anos, o grande representante deste gênero tem sido o alemão Rolland Emmerich, que parece adorar não deixar nada em pé. Basta olhar para seus filmes mais conhecidos, como “Independence Day”, “O Dia Depois de Amanhã” ou “2012”, que basicamente contavam a mesma história, só mudando o tipo de ameaça que seu elenco teria que enfrentar.

A receita de bolo, que já é contada há bastante tempo, é seguida passo a passo em “Terremoto: A Falha de San Andreas” (“San Andreas”), o mais recente veículo criado para tornar de vez o nome (e os músculos) de Dwayne Johnson popular mundialmente. Embora não traga nada de inovador, o filme chega a divertir, principalmente aos que querem ir ao cinema ver apenas uma boa e bem produzida obra escapista.

Na história, Johnson vive Ray, um destemido piloto de resgate do Corpo de Bombeiros de Los Angeles, capaz de realizar manobras incríveis para salvar pessoas em perigo. Embora seja muito bom no que faz, em sua vida pessoal, as coisas são um pouco mais complicadas. Tanto que sua ex-esposa, Emma (Carla Gugino), quer se divorciar dele para assumir a relação com seu novo namorado, o rico empresário Daniel Riddick (Ioan Gruffudd), embora mantenha uma boa convivência, especialmente por causa da filha, Blake (Alexandra Daddario).

O que ninguém contava é que um violento terremoto, causado pela instabilidade da chamada Falha d’San Andreas, arrasasse toda a Califórnia e deixasse todos correndo um grande perigo. Assim, Ray usa seus conhecimentos e sua força para salvar Emma e, depois, Blake, que estava em San Francisco na hora que o tremor ocorreu e conta apenas com a ajuda dos irmãos Ben (Hugo Johnstone-Burt) e Ollie (Art Parkinson) para sobreviver, enquanto espera que o pai a encontre e venha resgatá-la.

Como um bom filme-catástrofe, o que salta aos olhos em “Terremoto: A Falha de San Andreas” são as incríveis cenas de destruição, criadas com eficientes efeitos especiais, que ficam ainda mais ressaltados em 3-D. Mas, fora isso, a produção não apresenta nada de muito novo para o gênero. O roteiro de Carlton Cuse, que ficou famoso e premiado com os textos que criou para a série “Lost”, não tem situações mais criativas e usa, sem vergonha nenhuma, clichês vistos em outros filmes, como “Impacto Profundo”, “Volcano: A Fúria”, além dos já citados “2012” e “O Dia Depois de Amanhã”, sem o mesmo brilho. Além disso, boa parte dos personagens são bastante unidimensionais, que fica difícil se importar com eles. As exceções são o inusitado trio formado por Blake, Ben e Ollie, além de Lawrence o especialista em terremotos interpretado por Paul Giamatti, que consegue ser um dos melhores atores do elenco, mesmo sendo sabotado por ter que dizer coisas sem nexo, como no momento em que avisa que o terremoto alcançou 9,6 pontos na escala Richter (para quem não sabe, o tremor que arrasou o Nepal recentemente foi de cerca de 7 pontos) e seria sentido em Nova York.

A direção de Brad Peyton, dos nada memoráveis “Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Galore” e “Viagem 2: A Ilha Misteriosa” (também estrelado por Johnson) é apenas correta, embora consiga realizar um bom momento de suspense numa cena em que Ray tenta realizar um resgate e não sabemos se ele foi bem sucedido até o último momento. Mas falta a ele um pouco mais de pulso firme para tornar as sequências de ação mais empolgantes e dramáticas, como fazem outros cineastas do gênero como Rolland Emmerich ou JJ Abrams. Mas ele está no caminho certo e pode ser que, no futuro, realize trabalhos mais interessantes. Só precisa escolher um material com elementos que possam ser utilizados com mais criatividade e que não prejudique o resultado final.

À frente do elenco, Dwayne Johnson se mostra cada vez mais confortável como herói de filmes de ação e nada parece incomodá-lo, seja na terra, no mar ou no ar. A boa atriz Carla Gugino volta a fazer uma boa parceria com Johnson, após “Rápida Vingança” e “A Montanha Enfeitiçada”. A bela e carismática Alexandra Daddario, dos filmes da franquia “Percy Jackson” e da série de TV “True Detective”, até que se sai bem como a mocinha em perigo, mas sagaz o suficiente para enfrentar os problemas que surgem em sua frente. Os britânicos Hugo Johnstone-Burt e Art Parkinson até que não se saem mal como os companheiros inesperados de Blake após a tragédia, embora o garoto Parkinson (visto como Rickon Stark na primeira temporada de “Game of Thrones”) se destaque um pouco mais com suas tiradas bem humoradas.

No fim das contas, “Terremoto: A Falha de San Andreas” serve como um bom passatempo para quem quer esquecer os problemas por cerca de duas horas. Se o espectador conseguir deixar as incongruências científicas de lado, como encarar um tsunami com um barco pequeno e os clichês já vistos em tantos outros filmes, com certeza conseguirá se divertir. Mesmo que, tempos depois, nem se lembre mais do que se trata o filme, a não ser por alguns detalhes, como os prédios caindo, os músculos de Dwayne Johnson ou os belos olhos de Alexandra Daddario. Mais do que isso, talvez seja difícil.

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