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“A Cura” prejudica a saúde dos filmes de terror e suspense

O diretor Gore Verbinski já conheceu o sucesso de público com os três primeiro filmes da franquia “Piratas do Caribe”, em que foi um dos responsáveis pela consagração de Johnny Depp com sua divertida interpretação do Capitão Jack Sparrow. Ele também conquistou o respeito da crítica graças à versão americana do terror japonês “Ringu”, que se tornou “O Chamado” (e já rendeu duas continuações, não dirigidas por ele). Mas Verbinski também tem em seu currículo alguns grandes fracassos, mesmo contando com grandes astros hollywoodianos, como “A Mexicana” e, principalmente, “O Cavaleiro Solitário”, que pretendia ser tão bem sucedido quanto “Piratas”, já que também contava com Depp como protagonista, mas acabou sendo um dos maiores fiascos de bilheteria dos últimos anos.

Agora, Verbinski volta ao terror, mas com uma proposta totalmente diferente de “O Chamado”, e bem mais ambiciosa. Com “A Cura” (“A Cure For Wellness”, 2017), o diretor realiza uma obra que até rende bons momentos de suspense, investindo num clima de mistério que chega até a intrigar. Só que todas as pretensões de fazer o filme memorável vão por água abaixo devido à falta de foco para desenvolver melhor sua história, que acaba caindo no ridículo e deixando uma sensação de que tudo poderia ser bem mais impactante do que o mostrado na telona.

A trama é centrada no jovem e arrogante executivo Lockhart (Dane DeHaan), que trabalha em Nova York e recebe uma missão de seus superiores: ir até a um spa localizado nos Alpes Suíços e trazer de volta o Sr. Penbroke (Henry Groener), CEO da empresa que simplesmente não quer mais deixar o local, por se sentir “bem melhor”. Logo após chegar ao centro de saúde, administrado pelo Dr. Volmer (Jason Isaacs), Lockhart sofre um acidente, que acaba por prolongar sua estadia para ser tratado de seus ferimentos.

Só que o rapaz começa a desconfiar de que algo está errado por causa do estranho comportamento de alguns funcionários e pacientes, a maioria deles como Penbroke: idosos que estão em busca de uma cura prometida por Volmer. Suas suspeitas ficam ainda maiores quando ele conhece Hannah (Mia Goth), uma garota que guarda misteriosos segredos. Lockhart decide investigar o que está acontecendo no spa, mas à medida que tenta avançar em suas descobertas, sua sanidade começa a ser seriamente abalada, que pode levá-lo a um caminho sem volta.

Esteticamente falando, “A Cura” é um belíssimo espetáculo visual. A fotografia, assinada por Bojan Bazelli, utiliza uma paleta de cores esverdeada e dessaturada para mostrar as suntuosas locações usadas para representar a casa de saúde, ambientadas na Alemanha, que se passam pela Suíça. Além disso, o filme possui uma acertada direção de arte, que dá a impressão que o spa e as pessoas que estão lá vivem num mundo à parte, fora da realidade além dos portões que guardam o local. Os figurinos também ajudam a dar essa impressão de isolamento, de que o tempo parou para médicos e pacientes, e aumentam a sensação de estranhamento para quem vem do “mundo exterior”, como Lockhart.

Ocorre que, tirando essas qualidades, pouco (ou quase nada) dá para aproveitar no longa. A começar pela fraca direção de Verbinski, que não obtém bons resultados para criar uma tensão angustiante que possa ser compartilhada entre o protagonista e o espectador. Além disso, o cineasta dá a impressão de que, lá pelas tantas, decidiu não levar mais nada a sério e começou a sabotar o seu próprio trabalho, deixando de lado o cuidado que é visto no início da trama. Para piorar, o diretor decide dar um ritmo extremamente lento, que faz com que a história se arraste desnecessariamente, o que pode acabar causando impaciência e desinteresse ao espectador, ainda mais com várias cenas dispensáveis que poderiam ser cortadas, com uma edição melhor que não prejudicasse a compreensão da trama, além de efeitos especiais que poderiam ser mais convincentes em momentos-chave do filme.

Outro ponto fraco do filme está no roteiro, assinado por Justin Haythe (que já fez coisas melhores, como o texto de “Foi Apenas um Sonho”, mas também falhou em “O Cavaleiro Solitário”). A história apresenta diversos furos em sua narrativa, justificativas pouco convincentes para as atitudes de alguns personagens e uma desesperada tentativa de agradar a diferentes tipos de público, ao ponto de flertar com elementos de filmes de zumbi, por exemplo, numa sequência capaz de gerar risadas na hora errada. Aliás, o roteirista também parece ter posto num liquidificador filmes como “O Iluminado”, “Ilha do Medo”, “Um Estranho no Ninho”, “De Olhos Bem Fechados” e até mesmo clássicos como “Frankenstein” e “O Fantasma da Ópera”. Só que esta mistura não ficou bem batida e o resultado acaba ficando mais do que indigesto, especialmente para quem curte um bom filme de terror e suspense.

Estrelando pela primeira vez uma grande produção de Hollywood, Dane DeHaan se sai bem ao dar o tom certo de petulância e indignação para seu Lockhart, tornando seu protagonista convincente, embora chame a atenção que os realizadores fizeram o possível para que ele tivesse um visual que lembra muito o de Leonardo DiCaprio em filmes de Martin Scorsese como o já citado “Ilha do Medo” e “O Lobo de Wall Street”.

Jason Isaacs, mais conhecido do público jovem como o Lucius Malfoy da franquia Harry Potter e que se destacou como o vilão de “O Patriota” e como o Capitão Gancho do “Peter Pan” de 2003, se mostra bastante confortável como o ambíguo e carismático Dr. Volmer, embora seja prejudicado na parte final do filme por causa do roteiro sofrível. Mia Goth, vista em “Ninfomaníaca: Volume 2”, transmite bem a inocência, a ingenuidade e o mistério que fazem parte da personalidade de Hannah. O restante do elenco está competente, mas sem grandes destaques.

“A Cura”, no fim das contas, não é bom remédio para quem deseja sentir fortes emoções no escurinho do cinema. Além da longa duração, o filme pode causar uma terrível dor de cabeça por causa de sua pretensão de ser mais do que é e das constantes falhas ao tentar ser uma obra de suspense e terror minimamente assustadora. No fim das contas, o diagnóstico acaba não sendo, para a tristeza de todos, favorável. Melhor tentar outro medicamento.

Filme: “A Cura” (“A Cure for Wellness”)
Direção: Gore Verbinski
Elenco: Dane DeHaan, Jason Isaacs, Mia Goth, Harry Groener
Gênero: Terror, Suspense
País: EUA/Alemanha
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Fox Filmes
Duração: 2h 26 min
Classificação: 16 anos

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