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“Deadpool” detona (no bom sentido) com os clichês dos super-heróis

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Criado pelo polêmico Rob Liefeld e Fabian Nicieza durante a década de 1990, Deadpool foi uma espécie de resposta a um personagem da DC Comics bastante popular na época (e ainda é, até hoje), o Exterminador. Só que a contraparte da Marvel chamou mais a atenção por ser irônico, debochado e, ainda por cima, volta e meia quebrava a “quarta parede” (expressão muito usada no teatro, por exemplo), para “conversar” com os leitores no meio das histórias, chegando até a dizer que sabia que estava numa história em quadrinhos.

Seu jeito inusitado logo conquistou diversos fãs em tão pouco tempo e não demorou para que Hollywood tentasse trazer o anti-herói para a telona. Só que a primeira tentativa se revelou um tremendo desastre, quando o colocaram no fraco “X-Men Origens: Wolverine” totalmente descaracterizado, com um uniforme totalmente diferente e, para piorar, resolveram deixá-lo mudo em boa parte do filme e, assim, tirar um de seus principais “poderes”.

Porém, numa prova de que o mundo realmente dá voltas, a Fox, detentora dos direitos do personagem, resolveu investir novamente nele, depois do bom resultado obtido com “X-Men: Dias de um futuro esquecido” e do fracasso com o reboot de “Quarteto Fantástico”, em 2015. Só que, desta vez, os envolvidos no projeto decidiram que toda a anarquia vista nos quadrinhos deveria estar nesta nova adaptação e que boa parte das características do mercenário tagarela (incluindo o uniforme e a quebra da “quarta parede”) não seriam ignoradas.

Assim, “Deadpool” (idem, 2016) se revela uma grata e divertida surpresa por preservar o mesmo jeito politicamente incorreto que os fãs adoram, dando um novo fôlego às adaptações de quadrinhos para o cinema, já que algumas apontam um certo desgaste ao gênero, proporcionando uma experiência sensacional até para quem nunca ouviu falar daquele que não considera exatamente um herói.

Na história, Wade Wilson (Ryan Reynolds) é um ex-militar que passou a atuar como um mercenário, ganhando uns trocados para ajudar algumas pessoas. Um dia, conhece Vanessa Carlysle (Morena Baccarin), uma prostituta que tem o mesmo temperamento dele e tão desbocada quanto ele. Os dois se apaixonam e, entre uma e outra transa, decidem viver juntos. Só que Wade descobre que tem um câncer terminal, o que acaba de vez com os planos dos “pombinhos”. As coisas mudam quando ele é procurado para participar de um tratamento secreto que promete curá-lo de sua doença.

Assim, Wade passa pelas mãos de Ajax (Ed Skrein), responsável pelo projeto, que lhe dá poderes, como fator de cura, mas acaba destruindo o seu rosto e seu corpo no processo. Dado como morto após uma explosão, ele sobrevive e decide se vingar de Ajax e de sua parceira Angel Dust (Gina Carano). Para isso, conta com o apoio do amigo Weasel (T.J. Miller) e acaba esbarrando no X-Men Colossus (Andre Tricoteux, com a voz de Stefan Kapicic) e a jovem mutante Negasonic Teenager Warhead (Brianna Hildebrand), enquanto pensa se deve reencontrar Vanessa ou não.

“Deadpool” não esconde que é um filme de origem e nem tenta reinventar (muito) a roda deste tipo de produção. O que o torna diferente do que tem se visto atualmente é que ele se assume ácido e anárquico, uma medida corajosa numa época em que o politicamente correto está cada vez mais presente em nossa sociedade, para o bem ou para o mal. Assim, o espectador não é poupado de diálogos cheios de palavrões, violência gráfica, sexo e nudez, algo que até então não era visto nas recentes adaptações de quadrinhos da Marvel, que produziu o filme ao lado da Fox.

Aliás, vale uma pequena explicação: A Marvel Studios, que faz parte da Disney e é responsável por “Os Vingadores”, “Homem de Ferro” e outros, não participa aqui. Por isso, o filme teve um pouco mais de liberdade para ousar, o que deve ser louvado, especialmente pelos fãs do personagem.

Um dos pontos fortes do filme reside na ótima direção de Tim Miller, pela primeira vez comandando um longa-metragem, mas mostrando segurança para fazer tanto cenas de ação quanto cômicas com bastante eficiência. Outro aspecto a ser destacado é o inspirado roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick, que escreveram o também divertido “Zumbilândia” (2013), com um sem-número de piadas e referências pop que realmente funcionam. Além disso, o texto não faz concessões e zomba de outros heróis da Marvel (chegando ao ponto de, por exemplo, mostrar Colossus como um chato que só sabe falar frases feitas de autoajuda), da versão anterior do protagonista no filme do Wolverine (que também é alvo das brincadeiras), mas também dos da rival DC Comics.

Nem mesmo o astro Ryan Reynolds é poupado! E olha que, além de estrelar o filme, também é um dos produtores. É uma pena que, lá pela metade, a trama caia no lugar comum, só recuperando o fôlego na parte final.

Reynolds, aliás, conseguiu uma proeza que poucos atores conseguem. Assim como Hugh Jackman ou Robert Downey Jr, fica difícil ver outra pessoa no papel do mercenário tagarela. Com um olhar cínico e sem nenhuma vergonha de fazer (e dizer) as coisas mais polêmicas, ele deixa para trás a péssima experiência de ter sido o Lanterna Verde para se tornar memorável aqui. Sem ele, certamente o filme não teria metade da graça. A bela brasileira Morena Baccarin não se sai mal com Vanessa e, embora não seja tão marcante, não compromete com sua atuação e tem uma boa química com Ryan Reynolds. T.J. Miller funciona como o amigo engraçadinho e está menos chato do que em filmes como “Transformers: A Era da Extinção”, por exemplo. Quem também está muito bem é Brianna Hildebrand, com seu jeito meio de “tô nem aí” da Negasonic Teenager Warhead. O ponto fraco do elenco, porém, está nos vilões. Ed Skrein, visto em “Game of Thrones”  como o primeiro Daario Naharis e em “Carga Explosiva – O Legado” está bidimensional e pouco carismático com seu Ajax, assim como Gina Carano, que pouco tem a fazer com seu papel.

Com uma ótima trilha pop, que conta com canções de grupos como Salt N’ Peppa e Whan! (aquele do George Michael), além da ponta mais safadinha do Stan Lee, “Deadpool” tem a proeza de fazer o espectador rir já na primeira imagem do filme (é sério!) e vai muito além do humor do que, por exemplo, “Guardiões da Galáxia”, e pode até ofender os mais sensíveis. Mas para quem não se incomoda muito, certamente se divertirá e vai querer saber mais sobre o personagem ao final da sessão. Parece que o ano dos heróis do cinema começou bem.

Ah, sim!!! Fique no cinema até o final dos créditos. Tem uma surpresa que vale muito a pena assistir. Não perca!!!

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