“Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?”
Mais do que toda a crônica contada na letra da música “Eduardo e Mônica”, persiste nesse trecho inicial todo o sentido por trás da história de amor de personalidade antagônica do casal. O diretor René Sampaio, já íntimo de adaptar a obra do Legião Urbana para o cinema, uma vez que dirigiu “Faroeste Caboclo” (2013), entrega aqui seu melhor filme ao dar forma à música homônima.
O casal protagonista, de universos e personalidades muitos diferentes, se conhece na Brasília dos anos 1980, entende que quer ficar junto e precisa fazer essa história de amor dar certo. A premissa básica é essa, mas o cantor e compositor (um poeta, vale dizer) Renato Russo buscou no paralelo entre razão e emoção a base da letra que compôs. E Sampaio soube traduzir isso muito bem em imagem.
Seu primeiro e principal acerto foi na escalação dos protagonistas: não só a tal química de Alice Braga e Gabriel Leone chega a ser tátil, como a composição deles para a dimensão de suas individualidades já potencializa muito o resultado. O roteiro centra nessa aritmética entre ruído e atração com muita destreza e, apesar dos coadjuvantes ajudarem nessa construção, basicamente o filme se desenvolve só em cima dessa relação.
A letra da canção é interminável e o roteiro absorve tudo que ela oferece, mas é interessante observar como as liberdades acrescentadas estão de acordo com o que já sabemos dessa história.
O final, que é o paroxismo do verso inicial e o ápice da compreensão criativa que o diretor teve da letra, sinaliza como esse filme se torna, merecidamente, a versão audiovisual definitiva da crônica musicada que Renato Russo deixou de legado.
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