Que o brasileiro ama futebol, isso todos nós sambemos. O futebol inspira também nosso cinema, seja como tema geral de películas – como 45 do Segundo Tempo – ou detalhe pontual em alguns filmes – como em Marte Um. Mas o francês também é louco por futebol. O país bicampeão da Copa do Mundo tem vários times respeitados por toda a Europa e também tem seu cinema contaminado, de um jeito bom, pelo futebol. Prova disso é a estreia Meu Filho é um Craque.
Théo (Maleaume Paquin) é filho de pais separados. Ele não pode contar com seu pai, Laurent (François Damiens), para muita coisa. Ausente na maioria dos momentos importantes, Laurent só se faz presente na vida do filho durante os jogos de futebol do time juvenil local, time do qual Théo é astro. Um dia, um olheiro do Arsenal vai assistir a um jogo do time de Théo, e no final da partida pede para conversar com o garoto. Para tentar ver o pai feliz, coisa que há muito não acontecia, Théo mente e diz que foi selecionado para o time júnior do Arsenal.
Sabemos que mentiras têm pernas curtas e logo se descobrem, mas a mentira de Théo passa a precisar de outras mentiras para se sustentar. Isso, entretanto, não significa que não seja uma boa mentira: na preparação para a ida do garoto à Inglaterra, Laurent muda de vida, o time de futebol local atrai novos patrocinadores e até a assistente social que cuida do caso da guarda de Théo se inspira com o sucesso do menino.
O destaque vai para o elenco jovem. Da melhor amiga Romane, que chama Théo de “formiga”, título original do filme, até o amigo peculiar Max, passando pelo divertido Karim, todos os atores jovens estão bem, entrosados e à vontade em frente às câmeras. François Damiens é o adulto com mais tempo em cena, e tem um desempenho bastante bom. Laetitia Dosch, por sua vez, é praticamente desperdiçada com uma personagem apagada na trama.
Meu Filho é um Craque é o segundo filme como diretor de Julien Rappeneau, que já tem uma carreira mais longa como roteirista. O filme é baseado numa história em quadrinhos espanhola, da autoria de Mario Torrecillas e Arthur Laperla. Segundo Rappeneau, o filme é sobre como uma mentira pode salvar a vida de alguém, e também sobre como limites borrados nas relações entre pais e filhos precisam ser reequilibrados, uma vez que Théo serve, na maior parte do filme, como verdadeiro cuidador de seu pai, função que deveria ser reversa.
As sequências de jogos de futebol são poucas e seus resultados são inclusive previsíveis, mas isso não atrapalha o andamento do filme. Este “feel good movie” é perfeito tanto para crianças quanto para adultos, tanto para quem é fanático por futebol ou louco por cinema. É previsível, sim, mas faz tudo que se dispôs a fazer: marcar um golaço contra o tédio e balançar a rede aquecendo nossos corações.
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