O Expressionismo Alemão ficou marcado como um dos movimentos mais influentes do cinema mundial. Frequentemente citada por críticos e estudiosos da sétima arte, a tendência cinematográfica tem vários exemplares configurando em listas de melhores filmes de todos os tempos. Porém, ao contrário do que nos dá a entender, o expressionismo foi um movimento que abrangeu vários segmentos das artes, não se restringindo apenas ao cinema. Assim sendo, o que foi, de fato, o movimento expressionista?
O expressionismo foi um movimento artístico que teve início no século XIX e teve seu auge nos anos 10 e 20 do século passado. Teve forte penetração nas artes plásticas e no teatro, mas foi na década de 1920 que foi abraçado pela sétima arte. O expressionismo não visa reproduzir a realidade de forma fidedigna, mas sim estabelecer um exercício de idiossincrasia, onde o mundo é recriado a partir da percepção peculiar do artista numa sobreposição da subjetividade.
Metrópolis
No mundo expressionista há uma preocupação com a pisiqué do indivíduo e a velha pergunta: quem somos? Qual nosso estado mental? Devido a essa carga filosófica, não é de se espantar que o movimento tenha ganhado força na terra de Nietchze, Kant, Hegel e Shoenberg. Como sabemos, a arte é sempre um reflexo direto do momento em que vivemos. Para se entender o expressionismo no cinema, deve-se remontar a época em que seus principais expoentes ganharam a luz.
O Gabinete do Doutor Caligari
O pós-Primeira Guerra Mundial foi um dos períodos mais difíceis para a Europa, sobretudo para a Alemanha. Derrotada no conflito, arcava com uma população empobrecida e um déficit público calamitoso. E ainda lutava contra uma inflação impiedosa. O clima era de pessimismo e todo o horror vivenciado durante o período de guerra contribuiu para a derrocada do pensamento positivista, ou seja, na convicção de que o homem, abandonando a tradição, aportaria no progresso através do conhecimento científico do mundo. Daí a atmosfera nebulosa e sombria das películas, sempre pontuadas pelo niilismo.
Um exemplar que se tornou um epíteto do expressionismo no cinema foi “O Gabinete do Doutor Caligari” de Robert Wiene (1920). Os cenários marcantes, pintados por artistas expressionistas, ainda existem. Fazem parte do acervo do museu do cinema Henri Langlois, em Paris. Com abuso de sombras e a abordagem do tema perturbação mental, Caligari é expressionismo em sua quintessência. O universo ali retratado ignora as formas perfeitas e reais. Predominam as distorções e a assimetria que dão o tom exato de horror e insanidade que se quer passar na trama sobre o personagem título que hipnotiza um jovem e o induz a matar.
O roteiro de Carl Mayer e Hans Janowitz é influenciado pela convivência de Mayer com psiquiatras na Primeira Guerra e também por fatos reais. Outro ponto que vale ressaltar em Caligari é o emprego da famosa interpretação hiperbólica dos expressionistas, na qual o ator deve abusar das expressões faciais e movimentos labiais.
Depois de Caligari, outros dois cineastas se destacaram na cena expressionista: F.W. Murnau e Fritz Lang. Murnau ficou conhecido por “A Última Gargalhada” e, sobretudo, com “Nosferatu”, uma adaptação da obra Drácula, de Bram Stocker. De Lang, “Metrópolis” é até hoje um dos filmes de ficção científica mais importantes da História do cinema, servindo de fonte de inspiração para várias películas do gênero desde então. A fantástica visão do então longínquo 2026 nada mais é do que uma crítica à sociedade pós-revolução industrial, onde os trabalhadores braçais são explorados de forma vil pela elite empresarial.
Após seu apogeu, o expressionismo no cinema se perpetuou de forma indireta através de seus “filhotes”, como o filme noir americano, os filmes de horror da década de 30 (o diretor de fotografia de Drácula, Karl Freund, é o mesmo de Metropolis), o cinema novo alemão dos anos 70 (sobretudo os filmes de Werner Werzog). Até os dias de hoje, influências expressionistas podem ser notadas em algumas produções, das mais eruditas às mais comerciais.
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