Por muitas vezes a paixão excessiva de um diretor descamba em excessos ou falta de distanciamento necessária para que aquela obra transgrida seus maneirismos e obsessões pessoais e ganhe apelo cinematograficamente universal. Quentin Tarantino nos últimos anos, é um exemplo dos que submergem na paixão excessiva, prejudicando seus filmes. Denis Villeneuve é uma das poucas exceções a regra, chegando a esse paroxismo no excepcional “Duna: Parte Dois”. E estamos falando de um exemplar de filme de transição na, agora existente, trilogia do diretor para o livro clássico homônimo de Frank Herbert.
Após a apresentação no filme de 2021, agora acompanhamos o amadurecimento de Paul Atreides (Timothé Chalamet, em interpretação absurda que rivaliza com seu melhor trabalho ate aqui, em “Me Chame Pelo Seu Nome”), sobretudo na urgência de uma guerra santa para salvar o planeta Arrakis da exploração de especiarias, o ouro e o combustível de seu tempo. Cego de vingança após o extermínio da casa Atreides, ele se une a uma comunidade nativa do deserto para tomar posse de seu “trono” roubado.
Uma premissa que o livro traz e que o roteiro do filme se apropria de forma precisa é a relação mitológica que se estabelece em torno de um indivíduo, o que ressoa muito inteligentemente nos ruídos ensurdecedores que a religião causa no mundo hoje. Villeneuve simplifica a dimensão literária, paradoxalmente, trazendo complexidade ao antagonismo criado na figura realmente assustadora de Feyd-Rautha (Austin Butler, uma das carreiras ascendentes mais interessantes de hoje), o que traz um fôlego novo do meio para o final arrasador do longa.
O cineasta tem um olhar construído por grandes angulares de seu universo, o que resulta num filme amplo e cheios de camadas visuais, num e entrosamento criativo e de boníssimo bom gosto entre direção de arte, figurino, efeito sonoro e visual e fotografia que é um deleite para os olhos junto com certa perplexidade de como uma mente pode costurar todas as ideias para aquele resultado final.
Certamente “Duna: Parte Dois” é um dos filmes mais importantes e o melhor do gênero, pelo menos nos anos 2020. Dá para sentir a força da paixão de Villeneuve pelo livro/universo e o quanto ele verteu essa passionalidade em precisão artística. Esse é o seu diferencial, e a principal razão de você assistir a quase três horas de filme e quando acaba se perguntar: mas já?
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