“Dívida de Honra“, filme dirigido por Tommy Lee Jones, parece querer fazer homenagem e, ao mesmo tempo, criticar o gênero do faroeste americano. Muitas das escolhas dos planos, da luz e até mesmo a textura, sobretudo na primeira metade do filme, fazem lembrar alguns clássicos. Entretanto, como muitos pensam quando vão revisitar um determinado gênero, há de se acrescentar algo às narrativas que já conhecemos de cor. Para isso, Jones escolheu uma história que pode ser considerada feminista, que tem como foco o universo feminino de maneiras pouco exploradas por esse cinema. Se centra em uma mulher incomum para a época, uma mulher sozinha, solteira, com características masculinas e pouca fragilidade aparente, mais uma vez papel esse interpretado por Hillary Swank, que decide ajudar sua comunidade ao se comprometer a levar três mulheres casadas que ficaram loucas e cujos maridos não conseguem mais cuidar das mesmas.
O início do filme cria o contexto da loucura dessas mulheres, com cenas fortes e intrigantes, mas infelizmente todo esse foco e o crescimento narrativo dessas personagens femininas se estanca em determinado momento para dar vazão ao trecho da história protagonizado por Tommy Lee Jones e Hillary Swank. O abuso de um marido é salpicado em cenas que surgem do nada, sem explicação ou prosseguimento certo. A condição das mulheres se deteriora sem explicação e não temos nenhum tipo de conversa ou acompanhamento do tema por partes dos outros personagens, nos deixando, espectadores, simplesmente, com uma grande justificativa para a viagem e pouco além disso.
Além desse núcleo que gera interesse e logo depois é silenciado pela trajetória, outros pontos me dão a impressão de um roteiro não totalmente bem pensado. Algumas reviravoltas me parecem soltas e gratuitas e o rumo da história e dos personagens não segue uma lógica razoável. Não vou entrar em detalhes porque não quero entregar nada da história. Basta dizer que o filme deixa a desejar em seus desvios e sobretudo em seu final que fica empacado entre redenção e permanência. Uma confusão que pode ser considerada virtude de um roteiro contemporâneo ou mais uma intenção mal concluída.
Parte de mim acredita que Tommy Lee Jones pode ter pretendido criar uma história que não se pauta pelos mesmos pontos chave que vemos normalmente, que se quis imprevisível, mas penso que ele não soube explorar isso direito. O filme fica no meio do caminho entre o já conhecido e o desconhecido pouco satisfatório.
Apesar dessas críticas, as atuações são muito boas e a luz do filme é algo a se contemplar. Essa semelhança a estética ao faroeste dos anos 50, 60 chama atenção e me gerou fascínio. A personagem de Swank, Mary Bee Cuddy, é cativante por sua complexidade que passa por desejos e fragilidade a momentos de força e coragem.
Muitas cenas mostram virtuosas atuações e o próprio tema abordado já é interessante por si só, trazendo uma nova abordagem e nova representação para as mulheres em um gênero que por tanto tempo foi e ainda é dominado pelo universo masculino.
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