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"Eu consegui fazer um filme político", disse José Padilha sobre sua versão de "RoboCop"

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No dia 18 de fevereiro de 2014, o diretor José Padilha participou de uma entrevista coletiva para falar sobre sua versão do clássico dos anos 80, “RoboCop”. O diretor foi acompanhado de dois astros de seu filme: o sueco Joel Kinnaman, que vive o personagem-título, e Michael Keaton, que interpreta o CEO da OmniCorp, Raymond Sellars. A entrevista aconteceu em Copacabana e foi mediada pelo jornalista Roberto Sadovski, que comandou a finada revista de cinema SET e colaborou em outras publicações, além de escrever seu próprio blog.

No início da entrevista, Padilha explicou como se envolveu no projeto. Ele revelou que participou de uma reunião na MGM, onde foi apresentado a diversos projetos do estúdio. O diretor disse que não tinha se interessado por nenhum, até reparar num poster do RoboCop que estava atrás de um dos executivos que participava da reunião. Ele, então, propôs fazer um filme que atualizasse o personagem, que englobaria a política dos drones (naves não-tripuladas cada vez mais sendo usadas em confrontos envolvendo exércitos americanos) e como a substituição de soldados humanos por robôs iria mudar a geopolítica. A ideia agradou ao estúdio, que o chamou para fazer “RoboCop”.

Sobre a questão do filme ser menos violento do que a produção original, o cineasta acredita que aspectos como a violência ou mesmo o sexo têm que ser coerentes com o que o filme quer falar. “Se eu vou filmar “Laranja Mecânica” ou o primeiro “Tropa de Elite”, eu preciso mostrar a violência. Para o filme que eu fiz, que por um lado discute a política no uso da automação da violência, quando você substitui soldados por robôs, o que acontece? Essa questão é séria e para falar sobre ela, eu não preciso explodir um cérebro na frente da câmera. A outra coisa que eu queria fazer era discutir a diferença entre homem e máquina e criei um personagem que tem um dilema existencial, já que ele acorda um dia totalmente consciente sabendo que é um robô e será que vale a pena viver assim?”, perguntou Padilha. Quanto à escolha de manter a mão direita do Robocop, o diretor disse que a ideia era “maquiar” a humanidade do personagem, já que, no filme, os EUA ainda temem o uso de máquinas na segurança da população e isso era necessário para que a OmniCorp (empresa que cria o RoboCop) driblasse a lei que proibia a utilização de robôs, alegando que havia um homem dentro da armadura e, assim, criam um fenômeno midiático.

Padilha também declarou que ignorou a expectativa dos fãs do personagem: “Se eu fosse tentar pensar na expectativa dos fãs eu estaria liquidado. Agora, eu tentei e fui o mais fiel possível ao conceito básico do RoboCop, que para mim, é um personagem que traz dentro dele uma ideia filosófica, porque quando você abre a porta para o fascismo.”, disse o diretor, dando exemplos de filmes como “Nascido Para Matar”, de Stanley Kubrick, e o seu “Tropa de Elite”, para justificar a sua linha de raciocínio. “A gente foi fiel às ideias do filme, não à forma (…) Eu sou um fã do RoboCop, do primeiro filme. Não gosto do segundo nem do terceiro”. Sobre a possibilidade de dirigir uma possível continuação, Padilha foi enfático: “Eu não tenho um contrato com o estúdio com obrigação de fazer um segundo filme. Eu não pensei numa franquia. O problema vai ser do próximo diretor!”, contou, rindo.

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Joel Kinnaman, o novo RoboCop, disse que as dificuldades técnicas do uniforme causaram um desafio para separar a linguagem corporal da emocional, mas se tivesse que fazer um personagem que tivesse uma deficiência física, os problemas seriam os mesmos e que foi realmente complicado se manter concentrado. “Graças a Deus, eu fiz esse filme agora e não há dez anos atrás, porque agora tenho muito mais paciência e muito mais concentração”, disse Kinnaman, que foi defendido por Padilha. O ator afirmou que embarcou no projeto após saber quem o dirigiria, porque já tinha visto o documentário “Ônibus 174” e os dois “Tropa de Elite” na Suécia (seu país natal) e gostado muito de ambos como também do conceito, que era mais interessante do que o de outros remakes. Além disso, ele confessou ter visto o filme original 25 vezes quando era criança e sua mãe, que era terapeuta, pensou em levá-lo para conversar com algum de seus colegas porque estava com medo de que o filho desenvolvesse uma “psicose do RoboCop”, o que causou risos entre os jornalistas.

Para compor o seu papel, Joel Kinnaman disse que fez uma homenagem a Peter Weller, que interpretou o RoboCop nos dois primeiros filmes, com seu movimento de mexer a cabeça antes de virar o corpo quando andava, o que gerou uma piadinha de Keaton (“Ele roubou!”). Mas que procurou se mover de forma diferente do conceito de robôs que se tinha nos anos 80. Além disso, Kinnaman acredita que, apesar de seu personagem ter o mesmo nome do original, suas jornadas são completamente diferentes. Para ele, na nova versão, Alex Murphy tem muitos contrastes e se comporta de maneiras bem diversas durante o filme, o que tornou o seu personagem bem rico.

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Michael Keaton, questionado sobre como se sentia ao criar um RoboCop mais tático e preto como Batman (que interpretou nos dois filmes dirigidos por Tim Burton em 1989 e 1992), disse que, provavelmente, seu personagem pensou só na parte comercial, enquanto que Burton foi o primeiro a usar um uniforme negro para um super-herói, ideia que foi se diluindo após ser aproveitada muitas vezes depois por outros realizadores. “Mas, há um subtexto por trás da roupa por causa do lado sombrio do Batman”, disse Keaton, que elogiou o trabalho de Padilha. “(“Robocop”) é um filme socialmente, politicamente, filosoficamente muito profundo, sem ter que dar na cabeça das pessoas com essa profundidade. É entretenimento acima de tudo, mas  até do que o “Batman” que não está neste nível”. Quanto a seu personagem, Raymond Sellars, Keaton afirmou que o único modo de interpretar o vilão foi seguir a visão de Padilha e dos roteiristas, que coincidia com a dele. Ele lembrou da atuação de Gene Hackman, como o Lex Luthor de “Superman – O Filme”, como uma ótima maneira de fazer um antagonista: “Ele não é só brilhante, como também engraçado! Quem diria que Gene tinha humor? No fim, ele é um cara complexo, que toma decisões erradas”. O ator também confessou que só aceitou o papel por causa do elenco (que inclui também os astros Gary Oldman e Samuel L. Jackson) e disse que Padilha é incapaz de fazer um filme comum.

Quanto às possíveis dificuldades enfrentadas ao dirigir “RoboCop” em Hollywood, Padilha disse que não teve um controle formal sobre o filme, como teria no Brasil, mas mesmo assim garantiu realizar o que tinha em mente. “Eu consegui fazer um filme político mesmo, do jeito o que eu queria”, afirmou o diretor, que teve uma ótima aceitação nas exibições-teste feitas pelo estúdio. Ele também exigiu a participação de seu diretor de fotografia, Lula Carvalho, seu editor, Daniel Rezende, e o compositor Pedro Bromfman, que já trabalharam com ele em outros filmes, o que causou alguns problemas divertidos porque todos falavam em português entre si. Ele acredita que os americanos são mais inteligentes do que se pensava, citando séries que fazem sucesso nos EUA, como “The Wire” e “Breaking Bad”. Para Padilha, fazer um filme político em estúdio é muito difícil e que não quis criar, por exemplo, um vilão caricatural, como nos filmes do Batman e do Homem-Aranha. Na sua opinião, RoboCop não é um tipo de herói que não se aplica aos modelos do estúdio, o que o ajudou a fazer o filme que ele queria.

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Ao ser questionado sobre a questão da bilheteria, Padilha afirmou que o fato de “RoboCop” ter estreado em terceiro lugar nos EUA se deve a três questões: as comparações com o filme original, os problemas climáticos causados pelas fortes nevascas que atingem o país e o fato da estreia ter acontecido no Valentine’s Day ( o Dia dos Namorados americano). Ele acredita que a MGM vai ganhar muito dinheiro com o filme (que teria custado cerca de US$ 130 milhões), já que ele estreou em 15 países em primeiro lugar e vai aguardar os resultados da arrecadação das próximas semanas.

No fim da entrevista, o humorista Rodrigo Capella fez uma pergunta metida a engraçadinha para Joel Kinnaman: “O RoboCop vai parar o Justin Bieber?”. “Não, ninguém pode parar o Justin Bieber”, disse o ator, visivelmente desconfortável.

“RoboCop” estreia no Brasil no dia 21 de fevereiro em 700 salas.

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1 Comentários

  • Estou ansiosa para assistir. Padilha tem uma linha diferente dos diretores que estão na ativa em Hollywood e acredito que ele consegue explorar aspectos bem interessantes em blockbusters.

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