“Eu Me Importo” ensaia linguagem, mas derrapa no delírio do roteiro.

Há de se tomar ciência da escola de cinema por trás da direção de Eu Me Importo. Aquela mesma escola criada com astúcia pelos irmãos Coen, e absorvida por diretores como Martin McDonagh, que consiste numa “estética” nonsense de observação de seus personagens em perspectiva.

Goste-se ou não, essa prerrogativa é importante para absorver melhor o longa do diretor J Blakeson. Absorver, não necessariamente gostar. A história possui até um bom olhar crítico sobre como as instituições públicas americanas podem estar a serviço das empresas privadas.

"Eu Me Importo" ensaia linguagem, mas derrapa no delírio do roteiro. – Ambrosia

Marla Grayson (Rosamund Pike, absurda) é uma golpista que se vale de acordos com o judiciário para enganar idosos solitários, abocanhar seus bens e deixá-los apodrecer em lares de idosos. Até que ela acaba se metendo com uma vítima que não era exatamente como as outras, e se vê envolvida numa trama em que sua esperteza é colocada à prova diante de um cenário de gângsters, violência brutal e vulnerabilidade.

Dado filmes anteriores de Blakeson (como A Quinta Onda) sabemos que esse estilo não é propriamente dele, mas sim uma linguagem que se utiliza aqui. O nonsense requer um roteiro que saiba a medida do absurdo para se justificar, e é aí que o filme peca.

"Eu Me Importo" ensaia linguagem, mas derrapa no delírio do roteiro. – Ambrosia

Por mais que em tese, a história seja interessante ao brincar com complexidade de seus “vilões” (um pior do que outro), e até ao jogar luz sobre como a burocracia institucional é tão nociva quanto seus estelionatários, a necessidade de alimentar uma engenhosidade no absurdo, acaba enfraquecendo tudo. Muito da credibilidade do filme fica nas costas do espetacular trabalho de Pike, uma atriz muito mais inteligente que o filme. Assim como os coadjuvantes Dianne Wiest e Peter Dinklage, num misto de carisma e tensão absurdos.

Os excessos do filme se aglutinam quase que num delírio no final, onde o espectador escolhe se apenas se diverte ou se irrita. Ali se entende que talvez o filme confunda nonsense com sentido. Onde acha que tem um, existe a falta do outro. Ainda assim, de alguma forma, dá para sair dele com um sorrisinho de canto de boca.

Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

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