Foi aberto ontem o FICA 2018. O Festival Internacional de Cinema e vídeo Ambiental , que acontece na Cidade de Goiás, está completando 20 anos. De 5 a 10 de junho, a terra de Cora Coralina e Patrimônio Mundial pela UNESCO se enche de atividades e mesas de discussão sobre questões do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, além de, claro, longas e curta-metragens ligados ao assunto. Serão 101 filmes exibidos durante o festival. A abertura do evento se deu na noite de ontem (05/06) com o filme “Ex-Pajé”, de Luiz Bolognesi.
O filme mostra a história de um Pajé do povo Paiter Surui, que passa por questionamentos de fé desencadeados pelo primeiro contato com os brancos. O processo de evangelização é colocado em cheque quando ele se vê diante de um perigo de morte em sua aldeia.
Bolognesi já havia participado do festival em 2016 com a animação “Uma História de Amor e Fúria”, que também abordava a questão indígena em uma fantasia de ficção científica. Ao apresentar o longa, o cineasta paulistano afirmou que “os indígenas são os primeiros ambientalistas do Brasil”. Seu primeiro encontro com a figura central do longa, Perpera Suruí, o deixou emocionado. A ideia inicial era realizar um um documentário sobre oito pajés de tribos diferentes. Mas ao conhecer a história do agora ex-Pajé do povo Paiter Suruí, ele resolveu realizar o projeto inteiro em torno de Perpera.
O indígena foi destituído da função de pajé e expulso após intervenção de pastores de igreja na aldeia. Perpera só foi readmitido depois de aceitar participar das atividades evangélicas.
“Ex-Pajé” faz uma reflexão em torno do processo “civilizatório” das aldeias indígenas no Brasil, no qual se pode traçar um inequivocado paralelo com a catequese dos jesuítas nos tempos da colonização. A aculturação dos povos é o cerne da questão, mas também é mostrada a resistência em manter as tradições apesar da cultura branca estar completamente inserida entre os indivíduos da aldeia.
“Antigamente se consultava o Pajé, hoje tomam aspirina”, é dito em um dado momento. Em outro, vemos vemos um curumim sendo coberto com pintura tribal. E apesar dos esforços dos pastores da região, o forte elo com os espíritos não podem ser quebrados, como Bolognesi procura deixar claro.
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