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Excepcional, “Moonlight” é de uma verdade que poucas vezes o cinema absorveu tão bem

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Every nigger is a star!“, “Every nigger is a star!“… Quando os primeiros acordes dessa ironicamente bela canção de Boris Gardiner entoam sobre os primeiros minutos de Moonlight, já entendemos que o filme que está por vir se apropriará de um misto de poesia e corrosão para falar de sobreviventes. Porque Moonlight, nada mais é do que uma elegia aos que vivem pela sobrevivência. Social, emocional e até mesmo pessoal.

Baseado na peça In Moonlight Black Boys Look Blue de Tarell Alvin McCraney, o filme conta a história de um jovem rapaz chamado Chiron (Trevante Rhodes) através de três capítulos de sua vida. Ambientado na cidade de Miami, Moonlight foca em Chiron à medida que vai amadurecendo sua identidade diante das circunstâncias de sua vida dramática e do meio corrosivo. O diretor e também roteirista, Barry Jenkins (num trabalho artístico que nos faz perguntar: “como não o conhecíamos antes?!”), tem profunda sensibilidade para abordar seu universo de maneira que a marginalidade retratada seja vista pelo prisma de uma beleza quase triste das imagens e enquadramentos.

Interpretado em diferentes fases por Alex Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, todos numa unidade cênica e emocional impressionante, o protagonista plana pelo conflito de investigação sexual e percepção social, o que deixa claro que, na superfície, o filme arredonda uma história de amor um tanto delicada. Entretanto, na sua densa espessura, retrata uma América corroída por suas feridas históricas e que descamba para uma espécie de segregacionismo cotidiano. Tanto que Jenkins (que já citou Spike Lee como uma de suas grandes referências) possui um elenco de 97% negros e o restante de latinos.

Mas é nessa direção engajada e emocionada que está o grande mérito do filme, pois, seja pela escolha estética, seja pelo aprofundamento de personagens (muitas vezes num silêncio bem compreendido), a trama nos enreda para uma reflexão sobre como o amor, a identidade e o discurso podem ser tão híbridos e tão demasiadamente humanos. Por isso é muito importante observar o excepcional trabalho de Mahershala Ali, catalisando em poucas cenas a representatividade de todo o filme.

Poderia escrever umas quatro laudas só sobre atuações desse filme, em especial de uma arrepiante Naomie Harris, como a mãe drogada e displicente do protagonista. Moonlight é um filme lindo. E triste. Muito. Tem muita humanidade transbordando em cada lágrima que escapa de Chiron. Em um ano em que histórias reais ganham cada vez mais credibilidade em adaptações cinematográficas, vem um filme e subverte a propriedade do ser ficção, mas diante de uma realidade tão própria e universal. “Every nigger is a star!” está soando visceralmente pela vida. E, pessoalmente, Moonlight ainda não saiu de dentro de mim…

Filme: “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (Moonlight)
Direção: Barry Jenkins
Elenco: Ashton Sanders, Mahershala Ali, Naomie Harris
Gênero: Drama
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Diamond Films
Duração: 1h 51min
Classificação: 16 anos

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