Dessa leva um tanto esperta (para não dizer oportunista) da Disney em verter em live action seus clássicos desenhos, apenas Mogli, O Menino Lobo (2016) fez realmente sentido como um filme em si, e não um decalque muitas vezes mal adaptado da animação homônima. Após o aguardado lançamento de Mulan (no streaming da casa, Disney Plus), Mogli continuará sendo o único.
No caso da produção sobre a guerreira chinesa, até cabe um porém: não deixa de ser louvável a tentativa de se fazer um filme com a essência do original, mas através de um olhar diferente. A intenção era boa. Mas o cinema não costuma ser muito fácil para quem tem apenas intenções.
A diretora neozelandesa Niki Caro (do interessante Encantadora de Baleias), com isso, abriu mão de alguns sustentáculos que faziam a animação original funcionar, como o humor e o misticismo. Numa pegada quase realista, a diretora e o time de quatro roteiristas (inclusive dois deles, os mesmos da franquia Planeta do Macacos), acabam se perdendo nessa perda de identidade de uma história que nasceu de uma lenda chinesa.
Apesar do carisma da atriz Liu Yifei e do elenco oriental em geral (destaque para o grande Tzi Ma, e Cheng Pei-Pei), a trama é incapaz de fazer nos importar com sua trajetória ou qualquer outro personagem. Não é uma condução fria, apenas insípida.
As escolhas artísticas são uma sucessão de equívocos, repito, todos pela intenção não executada a contento por Niki: a direção de arte carnavalizada é deslocada e pouco crível, a montagem (sobretudo nas cenas de luta) claramente descuidada, e personagens secundários são colocados na trama sem qualquer função a não ser fazer a trama de Mulan andar.
O caso mais flagrante é uma personagem que começa com grande força antagonista e é dispensada gratuitamente, forjando um discurso feminista gratuito. Mulan, versão live action, não tem personalidade ou identidade suficiente para sair da sombra do animação de 1998. E é através dessa memória que seu resultado fica menos pior.
Comente!