Luc Besson parece bipolar, mas no fundo quer mesmo é estabelecer uma via entre o que se entende como cinema de arte (muito disso, oriundo de sua França natal) e o que se esfrega na cara do espectador como blockbuster ianque. Essa dicotomia prévia muitas vezes dá errado, mas a prolificidade do diretor aponta para notáveis acertos. E a cada filme ele burila mais sua expertise.
“A Família” é um filme que se vale do farsesco para evocar os grandes filmes e clichês de gangster, principalmente o produzido pelo cinema americano. Na verdade, o que o torna ainda mais cínico como um todo é justamente o que se sobressai como um deboche “de velho mundo” de Besson em cima dos maneirismos americanos, com a contrapartida de reconhecer esse espaço cultural na Europa (e no mundo).
Adaptada do livro “Badfellas”, de Tonino Benacquista, a história é sobre um mafioso, Giovanni Manzoni (Robert De Niro), que depois de relevantes serviços prestados ao crime organizado, inexplicavelmente, decide dedurar seus antigos amigos. Consequentemente, ele, a esposa Maggie (Michelle Pfeiffer), a filha Belle (Dianna Agron) e o filho Warren (John D’Leo), acompanhados da cadela Malavita, entram para o programa de proteção à testemunha. Sob a vigilância do agente do FBI, Robert Stansfield (Tommy Lee Jones), eles vão viver no sul da França. Com identidades trocadas, passam pelo choque cultural em todos os níveis e ainda têm que mantêr o sigilo de suas vidas sob pena de serem assassinados por um mafioso que alimenta o ódio de dentro de uma cadeia americana.
Além de referências óbvias e citadas como a Os Bons Companheiros, de Scorcese, como sutis, mas geniais como numa cena em que mafiosos descem epicamente de um trem ao som de… Clint Eastwood, música hit da banda Gorillaz, uma sacada brilhante. A trama vai brincando o tempo inteiro com paradigmas e o elenco é incrível, com De Niro mantendo o bom momento cênico do ótimo O Lado Bom da Vida e Michelle Pfeiffer, linda como sempre e carismática como nunca. Talvez Besson tenha se apaixonado demais pelo projeto e o roteiro poderia perder alguma gordurinha e resolver com mais limpidez algumas soluções rasteiras, mas o que o filme representa como cinema e ainda mais como, digamos, estudo de gênero, faz de A Família, um longa que reafirma o híbrido buscado pelo diretor francês ainda pode render muito filme instigante.
[xrr rating=3.5/5]
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