“The Witch in the Window”, drama-terror dirigido por Andy Milton,
faz parte da programação do Fantasporto 2019, o Festival Internacional de Cinema do Porto que traz o melhor do cinema inventivo, do Terror à Ficção Científica passando Fantasia.
Depois de ter sido colocado de castigo por sua mãe por ter acessado conteúdos impróprios para sua idade, Finn (Charles Everett Tacker), de 12 anos, é levado pelo pai (Alex Draper) para passar alguns dias no campo, fora da cidade e dos aparatos tecnológicos, incluindo a internet.
O começo do filme é um pouco emperrado. Apesar dos movimentos de câmera, que parecem dançar um discreto balé ao seguir os personagens, demonstrarem, desde o início, um controle interessante da narrativa, os primeiros diálogos e interações entre eles são um pouco forçados e superficiais. Depois de uns 15 minutos, quando um novo personagem aparece, o filme engata e vai melhorando cada vez mais.
Outra coisa que evolui com o filme é seu sentido próprio de terror e a compreensão de como atingi-lo. Os primeiros minutos apresentam o típico jumpscare com a trilha e os cortes bruscos cumprindo o papel de impor medo. Depois, a noção do terror vai passando para um nível mais profundo, ligado a um caráter mais mental do que físico.
Mais drama do que terror, no senso puro daquilo que entendemos pelo gênero, o filme une elementos com os quais estamos mais habituados a outros mais humanos, algo tão bem abordado nos primeiros filmes de M. Night Shyamalan. Através dessa junção aborda a relação entre o pai ausente, temeroso de se reaproximar da ex-mulher e do filho e acabar decepcionando-os, e o filho, revoltado com a distância do pai e com a incompreensão de sua mãe.
Nas entrelinhas daquilo que é revelado a partir de suas conversas, fica clara a real temática da história: a angústia dos pais em não poderem proteger os filhos da realidade doentia e cruel do mundo e o medo de não estar à altura da tarefa. O que é um fantasma perto de tudo de absurdo que acontece no nosso dia a dia?
Pela metade do filme, a personagem que nos deve impor medo é revelada e a cena na qual isso acontece demonstra um preparo muito maior desses protagonistas para lidar com o desconhecido do que em filmes mais antigos. É como se pai e filho já tivessem incorporado as lições das narrativas anteriores de terror e pudessem agora tomar decisões minimamente mais inteligentes e mais coerentes, além de dar um passo a mais nas soluções de roteiro.
Algumas coisas mais para o fim me parecem pouco exploradas, ainda mais tendo em vista que o filme só tem 77 minutos de duração. Acho que ele poderia ter se beneficiado de um tempinho a mais para complexificar e adensar um pouco sua história.
Não digo mais porque não quero dar spoilers, mas posso dizer que é um filme que explora estas novas potencialidades do gênero do terror e que, apesar de não fantástico, vale a pena ser assistido.
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