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Fenômenos de bilheteria no Brasil, "Drácula" e "Annabelle" apontam tendências?

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Na aritmética misteriosa que rege a bilheteria no Brasil, dois filmes tem se notabilizado pelo enorme apelo – mais de 3 milhões de espectadores – mesmo em meio à produções de grande apelo externo e interno (como comédias rasteiras): Drácula – A História Nunca Contada e Annabelle. Ambos desenvolvem possibilidades dentro do gênero terror (mesmo no caso de Drácula, que dimensiona isso para quase uma HQ), e estatisticamente, revela uma demanda reprimida no mercado nacional, puxada pelo público adolescente e adulto masculino.
A Universal Pictures mantém um catálogo de, digamos, “Monstros Clássicos” (leia-se: Frankenstein, Múmia, Lobisomem etc…) que andava criando teias em seus arquivos. Com o sucesso das HQs no mercado mundial (a Marvel causa inveja generalizada por lá) eles resolveram investir pesado nos seus “porões” para cunhar a parte que lhe cabe nesse lucrativo latifúndio de bilheteria.
Não deu lá muito certo com Lobisomem, mas com Drácula – A História Nunca Contada, espera realinhar seus “produtos” no mercado e em seus cofres. Partir da “história nunca contada” poderia até ser muito interessante num caminho de reinvenção, mas o resultado é, no mínimo, esquizofrênico. A trama situa Vlad (Luke Evans) no Império Otomano do século XV, em conflito com os turcos, onde vende sua alma ao diabo, ops, vira vampiro para salvar o seu reino. A história é basicamente essa, com todo o verniz de épico soturno medieval. Tecnicamente impecável – esse diretor Gary Shore, é estreante e vem da publicidade – o filme esvazia sua premissa “vampírica” em busca de uma veracidade nunca conseguida, em seus diálogos constrangedores e busca por uma seriedade que beira o ridículo. Não dá para dizer que não diverte, entretanto, entre o mito e sua identidade, o estúdio preferiu a falta de sentido.
Annabelle é um espírito possuidor tão potente que se expande até para sua própria realização. Com pinta de se estabelecer como nova franquia de terror em tempos tão carentes de filmes significativos do gênero (desde a febre asiática), a produção, dirigida por John R. Leonetti é um espécie de prequel (de notável baixo orçamento) do bom A Invocação do Mal, se propondo a mostrar o início da maldição atrelada na tal boneca de aspecto sinistro.
Passado nos anos 60, o filme vai num crescente da tensão da presença da boneca na vida de uma família – até entrelaçando interessantemente com a família Manson – mas comete o erro tácito de uma história de terror: busca o assombro pelo clichê da assombração. Em meio a tantos sustos fáceis e apelativos, o roteiro demonstra sua fragilidade e falta de sentido ao não conseguir justificar o embate sobrenatural de sua “protagonista”, afinal, para reforçar o fetiche do susto, a narrativa anda em círculos naquilo que sua proposta aparenta mais objetivar: o desejo do espírito por trás de Annabelle em possuir uma alma na trama. Evidente que a figura em si da boneca assusta. Tanto que nem seus realizadores conseguiram domar sua perspectiva…
Dois exemplos irregulares que dominam o gosto médio de nosso público. Seria isso um indício de alguma tendência cinematográfica? Talvez, o mais aproximado da questão é a certeza que o que resvala pelo gênero fantasioso agrada em cheio nossa bilheteria. Mas maior que isso mesmo é a noção que, desde o sucesso retumbante de O Exorcista, o gênero ainda cative, para além de seu juízo de valor pontual.

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