Festival de Cinema Italiano – A complexidade dos laços afetivos em “La Terra Dei Figli”

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Laços afetivos são a força motriz da sociedade gregária que nós humanos construímos, e justamente por ser tão essencial, desdobra-se em uma notória complexidade. Isso pode se referir tanto quanto à constituição como à manutenção. Se a formação de vínculos nos tornou praticamente invencíveis enquanto espécie, a ponto de nos tornarmos dominantes, acarreta conflitos e contradições que nos atormentam. Esse é o mote de “La Terra Dei Figli”.

O mundo está chegando ao fim. Pelo menos essa é a sensação no mundo pós-apocalíptico em que vive o protagonista. É um adolescente que cresceu em uma inóspita vila de pescadores que, após a morte de seu último parente vivo, decide deixar a cabana sobre o mar onde está confinado por tanto tempo para embarcar em uma viagem pelas terras devastadas. Seu bem mais precioso é o diário de seu pai, um caderno que parece conter as chaves para a sobrevivência, ou algo a mais.

O longa do diretor Claudio Cupellini (de “Alaska” e “Uma Vida Tranquila”) concebe esse que poderia ser uma apropriação italiana de Mad Max (ou talvez “Waterworld”) para divagar sobre a real força ou perigo dos vínculos. Ao partir para sua jornada além dos portões da vila sobre água onde vive, o jovem ouve o conselho “não confie em ninguém na parte externa”. Da parte familiar ele também não conheceu afeto. Seria essa a melhor forma de se tornar mais forte e encarar o que o mundo tem de pior?

Cupellini acerta em extrair uma adequada atuação agreste de Leon de la Vallée, que faz sua estreia em uma performance de várias camadas, muitas delas bastante sutis. A interpretação colérica de Paolo Pierobon é outro ponto extra na direção de atores do cineasta.

Tal qual em uma autêntica jornada do herói, o jovem precisa lidar com as intempéries e  os obstáculos oferecidos pela saída da zona de conforto (por mais que possa parecer pouco cabível caracterizá-la assim) para vencer o maior desafio que é a verdadeira compreensão de sua essência. A solução Deus ex-machina no final ameaça mas não compromete o todo.

“La Terra Dei Figli” se desenha como uma alegoria do que de melhor e de pior podemos externar nos momentos mais críticos. O cenário pandêmico é sem dúvida um terreno fértil para esse tipo de reflexão que certamente será a tendência no cinema pelos próximos anos.

Nota: Ótimo – 3.5 de 5 estrelas

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