A diretora Lucia Murat em seu novo filme, “O Mensageiro”, faz uma reflexão sobre o período obscuro da história do Brasil, mas que não deve jamais ser esquecido, que é o da Ditadura Militar que marcou o país por 20 anos. A trama se concentra nos anos de chumbo, quando o regime autoritário estava em seu apogeu.
O longa conta a história de uma mãe, católica e conservadora que tem a filha desaparecida durante o governo militar. Apesar de seus esforços para encontrar a menina em algum quartel, ela é sempre despistada pelos militares. A salvação chega na forma de um jovem soldado, recém-chegado do Sul, assiste constrangido a uma série de barbaridades. Ele decide correr riscos ao aceitar levar uma mensagem da filha presa para a mãe, criando um vínculo pautado por inúmeras contradições.
Discorrer sobre esse período histórico é de incontestável relevância. Lúcia criou a história se baseando em um fato real próximo a ela, de uma mãe que recebeu uma carta de um militar. O intuito do filme é bastante claro perante à necessidade de esclarecimento nesses tempos de informações transmitidas por redes sociais equivocadamente, que aos poucos, podem transformar a percepção de um episódio sombrio, principalmente quando serve de pauta de determinados grupos políticos.
A câmera de Lúcia explora habilmente os enquadramentos, principalmente quando armas e canhões estão em cena. Ela os coloca em uma perspectiva um tanto jocosa, mostrando o ridículo da necessidade de demonstração de poder e ameaça.
O roteiro assinado pela cineasta juntamente com Tunico Amâncio procura ao máximo dialogar com o contexto da sociedade brasileira atual, abordando os preconceitos e a hipocrisia de uma classe média conservadora, e como uma bruta reviravolta pode ser o único caminho para a compreensão da realidade.
O elenco traz Valentina Herszage interpretando a jovem Vera gerando empatia imediata com o público, e Shico Menegat, no papel do soldado Armando, que transmite adequadamente o dilema daquele a serviço da corporação, mas compreende o conflito com a humanidade que a função traz. E vale salientar o belíssimo trabalho de Floriano Peixoto como o pai de Vera.
“O Mensageiro” poderia até ser um pouco mais assertivo e menos didático em alguns momentos, ainda assim, é mais um filme que ajuda na compreensão do período abordado, prestando serviço de combater a desinformação que grassa na era da fake news.
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