Festival do Rio: Bad Lieutenant, de Werner Herzog

Bad Lieutenant Port of Call New Orleans

Diante dos infinitos recursos da indústria cinematográfica hollywoodiana, Werner Herzog, diretor deste “Bad Lieutenant, Port of Call New Orleans”, o cineasta alemão, demonstrando grande honestidade, pagou direitinho direitos e tributo à obra inspiradora desta, “Vício Frenético” (The Bad Lieutenant, 1992) de Abel Ferrara. Não precisava. Sendo o personagem protagonista a única coisa que lembra o filme original, teria passado desapercebido por qualquer advogado de direitos autorais. De resto, o roteiro de William M. Finkelstein, com episódios de séries televisivas policiais tais como “Law & Order” e “NYPD Blue” em seu currículo, não dá a menor dica.

Ao invés de Nova Iorque, aqui a trama se dá na, “Big Easy”, Nova Orleans, cidade cujos policiais são conhecidos pelos colegas de outras cidades como corruptos. Imaginem o nível da questão. Perto deles, o Katrina é fichinha. Um deles é Terence McDonagh, vivido por Nicholas Cage, imoral, antiético e viciado em drogas e jogo. Aqui ele investiga o massacre de imigrantes africanos envolvidos com tráfico de entorpecentes. Cage faz dele um vampiro expressionista tal qual o Nosferatu de Murnau, também reconduzido às telas por Herzog. Seja pelo olhão, aqui de adição, seja pela coluna encurvada do vampiro ou o trabucão que carrega na cintura.

A comparação com o imortal das trevas é brilhante. O policial é um verdadeiro sugador de dignidade e cidadania de suas vítimas ao exercer seu poder de maneira ilícita.

A narrativa é conduzida em tom cínico e humorístico dentro de um reconhecível estilo do diretor. Elementos tais como montagem, fotografia e “sujeiras” assim como longos planos em que o personagem é visto andando de costas, sobrepondo-o ao seu ponto de vista, estão lá para que fãs do diretor não se decepcionem. Ah, sim, Iguanas, fascínio obsessivo do diretor onipresente em seus filmes, também estão lá.

O filme de Ferrara é ótimo mas não procure por ele. Ao assistir a este, curta.

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