Federal foi filmado em 2006 pelo diretor Erik de Castro e, desde então, se tornou um dos projetos que mais rendeu expectativa no cinema brasileiro. Com Selton Mello e Carlos Alberto Riccelli como protagonistas e a participação especial do ator norte-americano Michael Madsen, o filme prometia ser a nossa singular versão brasileira dos filmes hollywoodianos focados no FBI. Infelizmente, o grande atraso entre o fim da produção e a estréia é algo comum no Brasil, mas 4 anos é um pouco demais, há de se desconfiar.
Federal aborda a história de um grupo de elite da polícia federal em Brasília que é formado para acabar com o reinado do traficante Beque Batista (Eduardo Dusek) sobre a capital federal. Mas isso não será muito fácil. Os tentáculos de Batista vão muito além do que se imagina e ele tem aliados por todos os lados, sejam deputados, pastores de igreja, donos de bar, diplomatas, policiais de todas as patentes e tudo mais que você possa imaginar. Além disso, a própria equipe de elite formada por Vital (Riccelli) tem seus problemas internos com corrupção, drogas, tortura e opiniões radicalmente diferentes sobre como agir. No meio disso tudo, um agente duplo do FBI aparece para apimentar a história e oferecer informações para ambos os lados.
Uma premissa nada original mas ainda assim interessante, com muitas possibilidades. A verdade é que para se produzir um filme de gênero (nesse caso, policial) com um mínimo de entretenimento para o público, nem é necessário ter um roteiro mirabolante e genial, mas apuro técnico e conhecimento minucioso do tal gênero são essenciais para garantir interesse suficiente para que alguém vá ao cinema ou o assista pela televisão.
Eu sei que estou demorando a emitir uma única palavra crítica nesse artigo, mas é que eu não sei muito bem como dizer isso. Nada no filme funciona. Nada. O filme fracassa em todos os aspectos mais básicos do cinema, como fotografia, montagem, roteiro, ritmo e direção.
Federal é um filme sem liga. Já vi muitos filmes em que as sequências parecem não casar muito bem, mas é a primeira vez em que vejo planos da mesma sequência que parecem pertencer a filmes totalmente diferentes. Isso sem contar alguns erros amadorísticos na edição, que me fazem crer que assisti uma cópia do filme não finalizada (embora não exista nenhum anúncio quanto a isso). Falar do roteiro, que participou do concorrido Laboratório de Sundance num longínquo 2001, é covardia (embora os diálogos sejam bastante ruins). O filme parece tão retalhado que culpar os escritores não faz sentido. As subtramas vão acontecendo na tela sem que o expectador entenda muito bem o que está acontecendo. Sequências equivocadas e inúteis (uma, em particular, sobre uma garota de programa, chama atenção. Que diabos ela está fazendo nesse filme?) vão se espremendo na tela atirando clichés mal formados para todos os lados.
Quanto às atuações, é sabido que filmes policiais necessitam de brucutus e atores charlatões, dão certo charme aos bandidos e aos policiais corruptos (vide toda a carreira de Eric Roberts e Michael Madsen), e o diretor de Federal sabe muito bem disso, mas errou na dose. Riccelli é incapaz de passar qualquer emoção e Selton Mello parece estar tirando férias. Madsen, grande chamativo do longa, aparece muito pouco e quando dá o ar de sua graça, é um desastre, falando o inglês mais paraguaio que já vi de um ator americano, dando a impressão que todos os seus takes foram tirados de ensaios. A cereja no bolo é Dusek, interpretando o traficante Beque Batista como se estivesse num terrir de Ivan Cardoso. Lastimável e, ao mesmo tempo, provocando gargalhadas pelos motivos errados.
Por último, temos o aspecto mais importante para esse tipo de filme. A produção de lutas, perseguições e tiroteios. Se você assistiu Top Gang – Ases Muito Loucos, com Charlie Sheen, você terá muitas boas memórias durante a projeção de Federal. Se não assistiu, talvez lembre das cenas de ação dos filmes dos Trapalhões.
Federal é um filme bem intencionado, uma tentativa de se fazer uma espécie de blockbuster americano no Brasil, mas é impossível ter qualquer simpatia pelo filme. O discurso político e social inserido no longa cabe inteiro numa página, não merecia tomar 90 minutos da vida de ninguém. Para piorar, entre sua produção e estréia, os dois Tropa de Elite chegaram para provar que é possível fazer excelentes filmes policiais com conteúdo no Brasil. Erik de Castro, realizador do eficiente e importante documentário Senta a Pua, precisa deixar de copiar e começar a entender os filmes de Hollywood que ele parece tanto amar.
É muito importante que esse filme seja visto por cineastas, entusiastas e futuros diretores, para que aprendam com os erros dessa produção, que pelo menos ousou fazer algo diferente dos padrões brasileiros, mas se saiu muito mal em sua proposta.
O filme faz parte da Mostra Panorama do Cinema Mundial.
- DOM (26/9) 14:45 Espaço de Cinema 1 [EC114]
- DOM (26/9) 19:15 Espaço de Cinema 1 [EC116]
- SEG (27/9) 16:30 Roxy 3 [RX014]
- SEG (27/9) 21:30 Roxy 3 [RX016]
- TER (28/9) 16:30 Leblon 2 [LB018]
- TER (28/9) 21:30 Leblon 2 [LB020]
- QUA (29/9) 14:00 Cinemark Downtown 1 [DW001]
- QUA (29/9) 19:00 Cinemark Downtown 1 [DW001]
Fatality!
Boa Porco! Eu sentia vendo os trailers que isso seria uma galhofa, agora foi confirmado!