Festival do Rio: A força, o instinto e a razão de “Aspirantes”

Um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala de cinema ao fim da sessão de Aspirantes, na Premiére Brasil do Festival do Rio. Parecia que o público ainda assimilava o impacto emocional do que acabara de assistir. Aspirantes é um filme que trafega entre duas propriedades. A da simplicidade narrativa, que transcorre pela naturalidade de seus…


Um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala de cinema ao fim da sessão de Aspirantes, na Premiére Brasil do Festival do Rio. Parecia que o público ainda assimilava o impacto emocional do que acabara de assistir.

Aspirantes é um filme que trafega entre duas propriedades. A da simplicidade narrativa, que transcorre pela naturalidade de seus ótimos atores (Ariclenes Barroso, Sergio Malheiros, Karina Teles e Julia Bernat, todos excepcionais) e na crônica que vai adensando essas relações. E também a complexidade de seu viés contemplativo, onde a firme direção do estreante Ives Rosenfeld (com maravilhosa fotografia de Pedro Faerstein) se vale de sons e enquadramentos para dimensionar o conflito de uma história que vai se revelando surpreende ao longo da projeção.

A trama se passa no pequeno clube de Saquarema, cidade da região dos lagos fluminense, chamado Bacaxá. É lá que jogam Junior (Ariclenes) e Bento (Malheiros), dois grandes amigos que sonham com uma vida melhor no mundo do futebol. Se Bento está com o futuro encaminhado, graças a um contrato já firmado com um clube grande, Junior ainda precisa ralar bastante para chegar lá. Para complicar ainda mais a situação, ele descobriu há pouco que será pai em breve, o que automaticamente lhe traz uma série de novas responsabilidades.

Aspirantes é um filme de construção, que joga no colo do espectador cada juízo de valor (ou seria apenas empatia?) que a trama vai tecendo sem pressa ou maniqueísmo. Uma história aparentemente inofensiva, mas que reserva uma grande observação sobre quando o instinto se sobrepõe a razão. Logo após os segundos de silêncio, a sala irrompeu em aplausos. Porque como todo bom trabalho, antes da catarse, é preciso retomar o fôlego que a reflexão havia prendido até ali.