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Festival do Rio: Isto é Amor

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“Isto é o amor” (This is Love) de Matthias Glasner (Alemanha, 2009) é a história do encontro de três vidas e três histórias: a da vietnamita Jenjira, menina de 11 anos, prostituída em sua terra que é “vendida” por uma gangue para a adoção clandestina na Europa. Chris, o depressivo intermediador do negócio que acaba se apaixonando pela menina e Maggie, a inspetora responsável por interrogá-lo e investigar o caso. Numa Berlin de chuvas e ventos, estes três personagens procuram se libertar de seus passados
traumáticos e decidir um destino, mesmo que seja à custa da própria vida ou da felicidade.

O filme aborda a ambígua e perigosa fronteira entre o afeto sincero e a pedofilia. Chris é um sujeito bem intencionado que procura dar a Jenjira uma oportunidade na vida para além de sua miserável origem sujeita à exploração sexual na Ásia. Porém, unidos contra os perigosos contratempos da clandestinidade ao fugir das máfias do tráfico infantil, eles não conseguem evitar de se contaminar pela proximidade afetiva. Assim, a precocemente iniciada Jinjira acabará por acender uma flama qualquer de esperança e vida no deprimido, impotente e suicida Chris.

Já a policial Maggie vive às voltas com o álcool para se suportar o abandono inexplicado do marido, a rejeição à filha e o assédio do colega de trabalho. É dela a melhor frase do filme: “A realidade é uma ilusão provocada pela falta de álcool”. E é este caráter ambíguo e fugidio da realidade um dos temas de Glasner, com o uso recorrente de mudanças temporais sutis e trocas de perspectivas subjetivas.

Um filme bem feito do ponto de vista cinematográfico, mas que peca por um roteiro inverossímil: como é que Maggie, como policial, fica anos sem saber o paradeiro do marido desaparecido? Mas no final, a mensagem é passada sob a forma de um questionamento de solução incerta: pode existir uma relação amorosa entre um adulto e uma criança que não seja marcado necessariamente pela pedofilia? Talvez a emergência do verdadeiro amor surja de maneira totalmente transcendente e não redutível a uma situação, como
algo dado a que não se demanda retribuição ou recompensa e a despeito do tempo, do lugar e da idade…

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1 Comentários

  • Achei o filme brilhante e sua crítica tocou nos pontos mais delicados do filme demaneira ímpar. Essa relação entre janjira e Chris é de uma força incrível. E tenho q concordar que a frase de Maggie foi a melhor. bj

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