A amizade e o sacrifício são dois temas recorrentes no cinema na TV e na literatura quando a trama gira em torno de personagens femininos. A soma dos dois elementos também costuma funcionar como ingrediente quase que infalível dessa receita e foi o que a diretora Catherine Hardwicke (de “Crepúsculo” e “Aos Treze”) escolheu para seu novo filme “Já Sinto Saudades” (Miss You Already, Reino Unido/2015), que está sendo exibido neste Festival do Rio.
Na trama, Milly e Jess são BFFs. Elas compartilharam tudo desde que eram crianças – segredos, roupas, risos, substâncias, namorados … agora eles estão encarando as agruras da vida adulta. Milly (Toni Collette) tem um trabalho bem sucedido e vive em uma bela moradia com Kit (Dominic Cooper) marido e seus dois filhos. Jess (Drew Barrymore) é uma urbanista que vive com seu namorado Jago (Paddy Considine) em uma casa flutuante sobre um canal de Londres. A amizade se mantém sólida, mesmo com os rumos diferentes da vida que cada uma tomou. Porém esse abismo se torna maior e mais difícil quando Jess se esforça para ter um bebê e Milly descobre que tem um câncer.
Essa é a primeira produção com um orçamento relativamente robusto e rostos conhecidos capitaneada pela diretora americana (que andou cogitada até para o filme solo da Mulher-Maravilha) após o fracasso de “A Garota da Capa Vermelha”, releitura de Chapeuzinho Vermelho que tinha grandes expectativas do estúdio. Seu último filme foi o indie “Plush”, de 2013. Esse é o primeiro longa em que Hardwick aborda um universo maduro. Embora “Aos Treze” tenha uma abordagem adulta, os personagens centrais são adolescentes. Aqui, as protagonistas são duas quarentonas que podiam muito bem ser as personagens do filme de 2003, estreia da diretora, após a passagem dos anos.
O empreendimento é bem sucedido. A direção é segura e bem menos engessada do que na saga dos vampiros e na releitura de Chapeuzinho Vermelho. É autoral como seus primeiros filmes. O roteiro assinado por Morwenna Banks é correto, apesar de ficar sempre a um passo do drama lacrimoso. Trabalha adequadamente o contraponto do momento da vida que as personagens passam: uma à espera de uma vida e a outra com a ameaça de morte pairando.
A força motriz no entanto é o desempenho da atriz Toni Collette e suas tranformações que tornam completamente crível o sacrifício da personagem. Quem sabe não vem pelo menos uma indicação ao Oscar? A fotografia de Elliot Davis, muito mais interessante do que em sua outra colaboração com a cineasta em Crepúsculo, é outro ponto positivo do filme, realçando matizes das paisagens inglesas que ao contrario do que muitos pensam, vai muito além do acinzentado.
No fim, “Já Sinto Saudades” pode ser encarado como apenas mais um filme que aproveita o mote surrado da amizade e do sacrifício, porém o tema é irresistível para ser trabalhado e sempre haverá espaço para ser explorado no cinema. Catherine Hardwicke tem apreço por ele, como se pode ver em toda sua filmografia e aqui ela tira um bom proveito, amparada pelas boas atuações.
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