Abrindo a Première Brasil do Festival do Rio 2017, As Boas Maneiras é o novo filme da dupla (que podemos dizer) já consagrada no cinema nacional, Juliana Rojas e Marco Dutra, especialmente pelo tipo de filme que empreendem: o chamado terror com tintas sociais. O longa é o único da seleção desse ano que não é totalmente inédito. Pelo menos no Brasil. Ganhou o Grande Prêmio do Juri do Festival de Locarno, na Suíça, e assistindo, entendemos o quanto a astúcia da dupla mereceu esses louros.
A trama se divide em duas partes principais onde a dupla cutuca questões hierárquicas das relações de trabalho doméstico ao mostrar a chegada de Clara (Izabél Zuaa, ótima) na casa da futura patroa Ana (Marjorie Estiano), cuja vida está isolada da família e amigos e ainda está nos últimos dias de gravidez. A relação entre elas avança literalmente para pulsões mais pessoais, o que acaba sobressaindo o viés sobrenatural do filme em si. Sim, é um interessante filme de lobisomens.
Os diretores demonstram muita habilidade ao casar o inusitado da fantasia com seus reflexos sociais, e é nisso que a história ganha tamanha credibilidade. Visualmente trabalhado para reforçar o tom soturno de sua sobrenaturalidade, As Boas Maneiras só peca pelo excesso de duração, que compromete levemente sua narrativa na segunda metade. Mas ainda assim, é inegável que o filme sustenta o talento da dupla em estabelecer a sua personalidade – os números musicais em meio às cenas obscuras são bem interessantes – assim como expandir o que querem mostrar para além de representações do gênero.
Cotação: Muito Bom
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