Não. Não dá para avaliar “Pequeno Segredo” sem pensar na sua candidatura para representar o Brasil no Oscar, em detrimento da excepcionalidade de Aquarius. E não só por questões políticas, mas, especialmente, pela a avaliação que se faz dele. Definitivamente, “Pequeno Segredo” não é um filme para grandes premiações. É sim, um filme para Sessão da Tarde. Talvez, olhando superficialmente, ele tenha os ingredientes que agradem a Academia que rege o Oscar. Superficialmente.
O filme conta a história da irmã adotiva do diretor, David Schürmann, Kat Schürmann (vivida por Mariana Goulart), que morreu em 2006, aos 13 anos, por complicações da Aids. A trama é costurada por duas linhas temporais. Uma se concentra na menina, focando em seu dia a dia como aspirante a bailarina. Ela não desconfia ser portadora do vírus HIV, e acredita que os remédios que toma sejam vitaminas — a mãe, Heloísa (Julia Lemmertz), rasga as embalagens dos medicamentos justamente para a filha não descobrir o “pequeno segredo”.
Paralelamente, conhecemos a história da brasileira Jeanne (Maria Flor) e do neozelandês Robert (Erroll Shand), pais biológicos de Kat. A trajetória de ambos sofre um baque quando Jeanne contrai o vírus após uma transfusão de sangue, contaminando o parceiro e a própria filha, ao engravidar. É aí que as duas narrativas se encontram.
A história em si realmente tem forte apelo, mas a abordagem de David se divide entre o melodrama e o genérico. A sensação é que o diretor busca cristalizar o tempo todo a dramaticidade dos fatos. Tanto que quando pode, explora o onírico de maneira bem cafona. Isso sem contar no mal uso do talento de Antonio Pinto na trilha, desesperadamente épica, e os closes nas reações para sublinhar a emoção.
Claramente o fato de a história ser muito pessoal para David interferiu no seu próprio senso de transformar a memória afetiva em cinema. Ou seja, onde deveria ter sensibilidade, só vemos pieguice. Voltando a analisar politicamente, vai ver é desse tipo de ópio que um Brasil ilegítimo anda precisando…
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