Roman Polanski é um daqueles cineastas que, quando anunciam um novo projeto, a comunidade cinéfila comemora e com razão. O polonês é sem dúvidas um dos maiores cineastas vivos, e um dos remanescentes da era do “cinema de diretor”. É sempre bom lembrar que um novo Polanski, assim como um novo Woody Allen ou um novo Scorsese devem ser degustados como se fosse o último, pois não sabemos até quando teremos o prazer de desfrutar de obras inéditas vindos dessas cabeças. Podem fazer comparações (injustas) com grandes clássicos do diretor, mas “Based On A True Story” (“D’après une histoire vraie”, França/Bélgica) é sim um grande filme.
Na trama, a escritora Delphine (Emmanuelle Seigner) escreveu um romance muito pessoal dedicado à sua mãe, que virou um best-seller. Exaurida e fragilizada por suas lembranças, ela é atormentada por cartas anônimas que a acusam de jogar sua família aos leões. Até que surge em seu caminho Elle (Eva Green), uma jovem charmosa e inteligente. A moça ganha a confiança de Delphine, que se abre para ela. No entanto, Elle vai se mostrando obsessiva e obstinada em determinar os rumos da carreira literária da escritora.
Adaptado do romance homônimo da escritora francesa Delphine de Vigan, Polanski desenvolve, nesse segundo filme consecutivo em língua não inglesa, um roteiro desconcertante, assinado junto com Olivier Assayas. O cineasta imprime um clima claustrofóbico que em muito lembra a chamada trilogia do apartamento, reforçado pela fotografia de Pawel Edelman. A trilha sonora de Alexandre Desplat é outro acerto na composição da atmosfera.
A condução de Polanski é norteada por sutilezas raras no cinema atual, que, no geral, parece ter receio de desafiar o público. Aqui, o espectador vai sendo enredado em dúvidas e certezas que podem ser logo desfeitas na sequência seguinte, além de ser presenteado por magnânimas atuações. Eva Green em cena não poderia estar mais perfeita. Ela arrebata por sua languidez e ao mesmo tempo em que vai desfiando as nuances de sua personagem. Vilã? Heroína? A dúvida perdura até o último minuto.
Por fim, é um deleite constatar que Roman Polanski continua brindando os cinéfilos com obras relevantes. Não ganhou nenhuma ferrugem depois de quatro anos sem filmar (seu hiato mais longo em 31 anos). “Based On a True Story” é um autêntico filme de diretor, que merece ser celebrado.
Cotação: Muito Bom
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