Julio Medem é o diretor dos premiados e bons Os Amantes do Círculo Polar (1998) e Lucia e o Sexo (2001). Seus filmes são conhecidos como melodramas estilizados em que os acasos intervêm como coincidências quase milagrosas que determinam o sentido da trama. Pelo apelo a um jogo de acasos, espécie de “synchronicity”, mais “new age” do que junguiana, os acontecimentos parecem encobrir um nível de realidade mais profunda que fazem seus personagens agirem como que empurrados por forças misteriosas de seus destinos obscuramente traçados. Assim, Medem é um dos poucos diretores contemporâneos que trabalham ainda com a ideia, algo demodé, de “fatalismo”.
Um Quarto em Roma conta a história de duas jovens mulheres, a espanhola Alba e a russa Natasha que se encontram casualmente em sua última noite em Roma, bebem juntas num bar e, hospedadas em hotéis próximos, decidem, movidas por um impulso de desejo, passar o resto da noite juntas no quarto de um hotel antigo no centro de Roma. Entre as transas noturnas a que prazerosamente se dedicarão, as duas vão descobrir afinidades mais profundas que as diferenças de cultura, língua e sexualidade não poderão dissimular.
Room in Rome é uma espécie de “En La Cama” lésbico, referência ao filme de Matias Bize que participou do festival de 2005 ( e está de volta neste com A Vida dos Peixes), mas sem a mesma carga de dramaticidade e invenção. O filme se passa quase que inteiramente num quarto luxuoso de hotel (no filme de Bize é num quarto de motel) e, como no filme chileno, as personagens vão aos poucos descobrindo suas vidas e histórias pregressas. Como igualmente no filme de Bize, a relação casual de motivação sexual torna-se aos poucos um vínculo afetivo mais forte que não terá como manter continuidade após a realidade do amanhecer.
Em Um Quarto em Roma, Medem segue na linha que traçou a partir de Lucia y el Sexo, a do melodrama com forte carga erótica. Aliás, o diretor espanhol é um dos nomes fortes contemporâneos do erotismo sofisticado, na linha de Tinto Brass, mas sem o humor e o deboche deste, mas com impecável construção cênica. As atrizes Elena Anaya e Natasha Yarovenko passam o filme todo inteiramente nuas, como se Medem nos dissesse que a sinceridade afetiva só é possível quando estamos despidos. A relação entre a verdade afetiva e a nudez dos corpos é um dos temas deste filme. Esta relação é intermediada pela fantasia que está presente no ambiente romano que serve de cenário para a noite das jovens e torna ambíguas as narrativas das protagonistas.
Assistir a um filme com duas jovens mulheres transando sem a presença fálica é uma típica fantasia masculina. Mas não é a fantasia o elemento fundamental deste melodrama? O cinema como uma tela onde podemos projetar nossas fantasias mais obscenas que só revelaríamos na intimidade de um quarto ou no escuro do cinema. Pena que Medem carregou mais no “melô” do que no drama, o que tornou frouxa boa parte do enredo. Esta deficiência foi sentida pela platéia assistente que se manifestou com hilaridade e gracejos em algumas cenas. Ou seria este comportamento impróprio causado pelo incômodo de presenciar cenas de nudez e sexo lésbico? Por mais adulto que seja o público, o sexo ainda é algo que consegue provocar constrangimentos. Mas desde seu nascimento, haverá uma motivação maior para se ir ao cinema do que espiar (e talvez expiar) a intimidade humana?
Putz não acredito até agora que perdi esse filme 🙁
Eu tinha ingressos pra esse filme e não pude ir =/ Nunca recuso um filme desses, nem que seja ruim haha