E o cinema legítimo de Lucrecia Martel encontra o registro histórico. Baseado no romance de Antonio di Benedetto, escrito em 1956, Zama conta a história de Dom Diego de Zama (Daniel Gimenez Cacho), corregedor público, funcionário da Real Coroa Espanhola, que está alocado em Asunción, vilarejo do interior do Paraguai; e que deseja veementemente voltar para sua cidade, Buenos Aires, onde deixou mulher e filhos. O seu desejo pessoal é confrontado com suas obrigações profissionais, que vão sendo subestimados por poderes institucionais.
Passado em fins do século XVIII, Lucrécia ambienta a trama numa direção de arte suja e caótica (captando bem a estética crível da época), mas com fotografia (do português Rui Poças) delicada e detalhista. A conhecida atenção da diretora pela edição de som é muito pertinente para entendermos o incômodo espacial da qual Zama está localizado, frente a seu anseio.
O ritmo lento é pautado pela abordagem limitada à figura do protagonista, só quebrada quando o mesmo resolve tomar uma atitude que o faz cruzar com um bando liderado pelo personagem de Matheus Nachtergaele, que é quando o filme ganha fortes tintas oníricas. Lucrecia costuma fazer de suas histórias exercícios metafóricos demasiadamente humanos. Aqui, ela cerceia a História com esse mesmo intuito. Se por um lado livra a adaptação do esquematismo, por outro deixa pesada demais sua conjuntura. O ínterim disso é exatamente o juízo de valor que você dará para o filme.
Cotação: Bom












