Otávio Müller é daqueles atores que fazem da condição de coadjuvante um trampolim de arestas para seu extremo talento. “Minutos Atrás”, de Caio Sóh, último filme concorrente da Premiere Brasil do Festival do Rio 2013 é baseado na peça homônima do diretor, e uma delicada comédia que usa o humor e a fantasia para contar a história de Alonso (Vladimir Brichta), Nildo (Muller) e o cavalo Ruminante (Moska).
Os catadores Alonso e Nildo, duas almas solitárias, e seu cavalo caminham pelas estradas da vida, tentando reencontrar algo que lhes recicle a própria existência. Dizer que Otávio é a alma do filme é cair na redundância. Sua atuação, numa consistência de comédia dramática que remete a uma certa ingenuidade do cinema italiano clássico, talvez dê ao roteiro de Caio uma dimensão mais orgânica em meio a estética farsesca do longa. Um verdadeiro primor. O discurso da história pedia mesmo atuações assim. Trata-se de um doloroso retrato da humanidade pelo viés corrosivo do humor. O filme em si aponta duas contatações: uma é que Caio é um diretor talentoso e com uma sensibilidade interessante. A outra é que sua essência teatral provoca ruído com a linguagem cinematográfica, deixando-o com uma fluência comprometida demais com a oralidade da história. É uma opção estética/discursiva. Mas a sensação de que seu contexto se impõe mais nos palcos do que nas telas é inevitável.
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