O cinema de Lírio Ferreira é marcado por forte identidade representativa, algo observado até em sua incursão pelo documentário, como no estilístico Cartola – Música para os olhos. Quase dez anos depois de sua última ficção (Árido Movie), o diretor retorna ao gênero com Sangue Azul, um dos filmes que compõe a Première Brasil do Festival do Rio 2014.
Com um fotografia deslumbrante, evidenciado as luzes de Fernando de Noronha, a história acompanha a vida do sedutor Zolah (Daniel de Oliveira, ótimo), artista de circo que deixou a ilha para “ganhar o mundo”, e que retorna ao lugar, com sua trupe circense, para encarar os fantasmas de seu passado, dentre eles, a redescoberta de um amor (também carnal) pela própria irmã (Caroline Abras).Lírio fez um filme sobre isolados. A própria ilha é uma metaforização desses vários isolamentos que permeiam a história. Há o isolamento afetivo, emocional, moral e até o sexual (em cenas bem gráficas, mas bem filmadas).
O roteiro não está muito preocupado em acompanhar a narrativa de seus vários personagens, mas sim em estabelecer uma representação maior sobre o conjunto, um estilo do diretor. A própria curva dramática de Zolah, assim como os impulsos sexuais pela e com a irmã, são quase destituídos de conflitos morais. Tudo é retratado com a urgência desse isolamento e como isso afeta o envolvimento dos personagens. Esse tipo de narrativa não entrega desfechos, e isso pode deixar tudo relativo demais. Mas como experiência cinematográfica, vale sempre prestar a atenção e se deixar levar…
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