Festival do Rio: "Whiplash – Em Busca da Perfeição"

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No mundo, há muitas pessoas que desejam ser as melhores naquilo que fazem. Seja na vida acadêmica ou profissional, o objetivo desses indivíduos é alcançar aquilo que tanto desejam, sem se importar em ter pouco traquejo social ou mesmo não ligar muito para os limites do corpo e da mente. O que realmente conta para eles é atingir um patamar que praticamente ninguém conseguiu até então. O problema é que, para chegar lá, o preço pode ser bem alto e difícil de ser pago. O Cinema já mostrou isso em vários longas, como o recente “Cisne Negro”, que deu a Natalie Portman o seu primeiro Oscar. Mas há muito tempo, não se via algo tão vibrante com o mesmo tema como “Whiplash – Em Busca da Perfeição” (“Whiplash”).
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A história é protagonizada pelo jovem Andrew Neiman (Miles Teller), de 19 anos, que entra para um conceituado conservatório de Música e quer se tornar um grande baterista. Ele acaba chamando a atenção de Terence Fletcher (J.K. Simmons), um premiado porém implacável maestro que comanda a banda de Jazz da escola. O rapaz acaba sendo levado ao limite para conseguir realizar tudo o que o tirânico mestre deseja e isso acaba causando problemas na sua vida, seja no seu relacionamento com a namorada Nicole (Melissa Benoist), seja com a sua própria integridade física e mental. Determinado a não fracassar como o seu pai (Paul Reiser), que tentou ser um escritor no passado, Andrew treina exaustivamente o seu instrumento para manter sua posição no grupo. Mas acaba entrando em conflito com o implacável Fletcher.
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O que destaca “Whiplash – Em Busca da Perfeição” de outros filmes com estilo semelhante está na maneira que o diretor e roteirista Damien Chazelle conduz a sua obra, com bastante vigor e personagens bem construídos, em particular os protagonistas. Embora Andrew seja o “mocinho” da trama, ele é um típico jovem de sua idade, com um certo ímpeto que se observa em muitos rapazes por aí, que acreditam ser capazes de superar a tudo a todos, sem medir as consequências. Ao mesmo tempo em que Fletcher apareça em boa parte do filme como um homem inflexível e cruel, também tem dentro de si espaço para se mostrar um pouco mais humano. Numa cena, por exemplo, ele aparece brincando com a filha de um colega um pouco antes de uma apresentação de sua banda, de uma forma simpática. Logo em seguida, ele volta a despejar sua fúria contra seus músicos para que não o decepcionem com suas performances. Outro momento é quando ele sente a morte de alguém que foi realmente importante para sua vida no passado. Isso revela que houve uma preocupação para que o público não pense que Fletcher é um personagem maniqueísta, como se fosse um vilão superficial e isso é um grande mérito para o roteiro do filme.
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Além disso, não tem como não reparar na excelente montagem de Tom Cross, que tornam realmente empolgantes os momentos de enfrentamento entre Andrew e Fletcher, numa espécie de disputa pelo poder dentro da banda, onde um tenta valer sua vontade sobre o outro. A fotografia de Sharone Meir e a edição de som ajudam a dar o clima às vezes delirante do filme e fazem o espectador se sentir como se também no meio daquela batalha, especialmente na brilhante sequência final, que deixa qualquer um arrepiado com o que acontece na tela.
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Quanto ao elenco, todos estão eficientes em seus papéis. Mas quem realmente brilha é a dupla de protagonistas. Miles Teller, que fez filmes como “Divergente” – e vai ficar mais conhecido quando estrear a nova versão do “Quarteto Fantástico” (onde interpreta o líder do grupo, Reed Richards) -, interpreta Andrew com fúria e energia necessárias para tornar seu personagem cativante, a ponto de perdoarmos sua arrogância em alguns momentos. Já J. K. Simmons, cujo papel mais conhecido foi o J. Jonah Jameson dos filmes do “Homem Aranha” dirigidos por Sam Raimi tem provavelmente a melhor atuação de sua carreira. Seus ataques de cólera são dignos do sargento linha dura de “Nascido Para Matar”, vivido de forma impecável por R. Lee Ermey no clássico de Stanley Kubrick, e alguns deles até fazem as pessoas darem um riso nervoso, por causa do sem-número de palavrões que ele vocifera numa frase e seu jeito politicamente incorreto de tratar seus pupilos. Assim, ao final do filme, não tem como não lembrar da figura marcante que Simmons criou. O ator, assim como Teller (que aprendeu a tocar bateria quando tinha 15 anos e fez cerca de 70% de suas cenas com o instrumento), deveriam ser lembrados em premiações nos próximos meses, pois os dois merecem.
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Grande vencedor do Festival de Sundance 2014, “Whiplash – Em Busca da Perfeição” é um daqueles filmes que conquista o espectador na primeira batida dada por seu protagonista já na abertura e agita cada vez mais à medida que o ritmo, tanto da percussão quanto da história, vai num crescendo até o seu desfecho. Resumindo em uma palavra: Imperdível!

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