A Mostra Competitiva do Festival Internacional de Cinema e Vídeo ambiental (FICA) começou ontem (dia 06/06) com um cardápio bastante variado. Curtas e longas abordavam temas relacionados à questão ambiental e desenvolvimento sustentável. Na primeira sessão, duas animações chamaram a atenção do público: Pet Man e O Malabarista.
A primeira é uma produção iraniana de 2017. Dirigida por Marzieh Abrarpaydar, a animação mostra a alucinação de um vendedor de animais que se vê diminuto e engaiolado enquanto é observado por animais. Ao fugir, se depara com um mundo em que os humanos estão submetidos aos animais, seja como bichos de estimação ou usados em trabalhos de carga. A temática não é nova, mas o traço marcante, uso de formas e sombras que remetem ao expressionismo alemão chamam bastante a atenção.
O minimalismo e a singeleza de O malabarista (imagem de capa) conquistaram os espectadores. A produção local (de Goiânia) é um documentário que se utiliza de animação para contar o cotidiano dos malabaristas de rua. Eles são representados pela figura de um boneco de rosto pintado que realiza performances em sinais e dentro de ônibus. É interessante como o diretor e roteirista Iuri Moreno reproduz expressões naturais de personagens do cotidiano e usa uma geometria que lembra bastante artistas como Escher para retratar o ambiente urbano opressor, em contraste com a cor e a alegria dos artistas de rua. Depoimentos de malabaristas reais são usados como narração.
O curta mexicano Outubro Outra Vez foi o queridinho do público. A diretora e roteirista Sofia Auza conta as lembranças de uma história de amor de um rapaz com uma moça engajada na causa ambiental. A história é mostrada em retrospectiva não linear em montagem de videoclipe e rende momentos hilários com os embates de uma pessoa com forte consciência de desenvolvimento sustentável e um cidadão comum acostumado a práticas como desperdício.
O espanhol O Homem de Água Doce já enviesa por um tema tocante. Em uma cidade californiana, uma menina surda-muda desafia o avô, um bombeiro reformado turrão, a criar um sistema inusitado par devolver a água a um rio seco.
Experiência sensorial e “arca de imagens”
O desmatamento, a extinção de espécies, instalação de indústrias e outras intervenções estão “matando” o som da floresta. Alguns sons já não existem mais, e isso chega até a desorientar espécies animais. O longa italiano Coros do Anoitecer acompanhamos o trabalho do eco acústico David Monacchi e seu projeto de captar os sons da natureza em 3D. Assim, ele cria uma experiência sensorial com paisagens sonoras, dando a dimensão do que resta de região virgem da Amazônia. A área ainda concentra as mais altas taxas de biodiversidade do planeta. O resultado é impressionante. Alguns barulhos nem parecem terráqueos. O filme acompanha toda a aventura de Monacchi com seu equipamento para realizar as captações, e contou até mesmo com apoio logístico de tribos locais.
Dia é o longa do português André Valentim Almeida. Imagine se os dinossauros tivessem deixado um registro de imagens mostrando como viviam. Pensando em facilitar o estudo da próxima espécie dominante do planeta após nossa extinção, ele realizou esse belo filme, uma verdadeira Arca de Imagens. Valentim parte das ideias de fim dos tempos com a passagem do furacão Sandy e as premonições em relação a 2012.
São imagens de destruição, guerra, intempéries, desastres ambientais, alternadas com registros banais da vida cotidiana (e da sua própria), além de trechos de filmes, costurados com citação de autores, cientistas e cineastas. Questões existenciais também dão o tom da narrativa, mas sem deixar a coisa complexa demais. No fim, a mensagem é como nos relacionamos com o meio ambiente. Como corremos o risco de ficar lembrados como uma espécie peculiar que se extinguiu não por intervenção externa ou predadores, e sim por ter tentado alterar as leis da natureza.
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