Uma coluna para os viajantes interessados em conhecer lugares fora da rota tradicional do turismo. A busca aqui, não é particularmente por visitas a regiões “exóticas” ou remotas, mas sim estabelecimentos interessantes e diferentes situados muitas vezes em cidades bem tradicionais.
A coluna “Fora da Rota” pretende visitar museus, cinemas, galerias e outros locais diferentes pelo mundo a fora, sempre priorizando o fator cultural destes lugares incomuns. Ainda sim, não é nosso objetivo estabelecer qualquer tipo de guia de viagem com esta coluna, e sim mostrar estabelecimentos diferenciados para aqueles que querem conhecer o mundo.
Na primeira edição de “Fora da Rota” vamos falar sobre o Instituto Lumière em Lyon. Considerada a segunda maior cidade da França (na verdade praticamente empatada com Marseille em termos de tamanho e população) ela normalmente não costuma a fazer parte da rota de turismo tradicional de quem visita o país, apesar de muita beleza e dezenas de pontos turísticos atrativos.
Lyon também foi conhecida como a cidade do cinema, já que foi nela que nasceram os irmãos Lumière, inventores do cinematógrafo e considerados por muitos como os pais desta arte. Até hoje, podemos perceber a adoração que os lioneses possuem pela sétima arte, em uma cidade com cerca de 1,5 milhões de pessoas, ela possui quase o mesmo número de salas de cinema (280) que o Estado do Rio de Janeiro, que por sua vez conta com 16 milhões de residentes.
Foi lá onde foi filmado o primeiro filme da história: “A saída dos trabalhadores da usina Lumière em Lyon”, capturado por Louis Lumière em 1895. Ainda que hoje, as evidências apontem que outro francês, Louis Le Prince, tenha conseguido filmar os Jardins de Rhounday em 1888 sete anos antes.
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Apesar da importância da cidade para a história do cinema, o Instituto Lumière raramente parece fazer parte dos passeios turísticos de Lyon. Localizado em uma região um pouco mais afastada do centro da cidade, na linha verde do metrô (estação Monplaisir- Lumière) o Instituto foi fundado em 1982 pelos netos de Louis Lumière, no antigo local onde ficava a fábrica da família (onde o cinematógrafo foi inventado), cenário para as filmagens do primeiro filme do mundo.
Hoje o enorme complexo conta com um museu, biblioteca, videoteca, salas de exposição, centro de edição e, obviamente, salas de cinema. Classificado pela Unesco como Patrimônio Mundial pela educação, ciência e cultura, o local é uma visita praticamente obrigatória para qualquer cinéfilo.
O arquivo do Instituto conta com cerca de 1405 filmes originais, todos restaurados pelo Centro Nacional de Cinematografia , sendo o principal arquivo do mundo para encontrar películas filmadas antes dos anos 30. Ainda que os filmes originais estejam bem guardados (ou expostos no museu) qualquer um pode assisti-los (em formato digital) e até requisitar cópias dos mesmos em DVD.
Segundo o diretor do Instituto, Bertrand Tavenier, eles possuem dois objetivos principais: o primeiro é a conservação do patrimônio Lumière (constituído por filmes, livros, fotografias, cartazes e aparelhos de cinema e de “pré-cinema”), e incentivar as atividades artísticas de difusão (projeção de filmes, exposições, edições de livro e até formação de profissionais).
O Instituto Lumière é um complexo composto por prédios diferentes, cada um servindo como uma parte integrante do projeto, ainda que fisicamente salas de aula e cursos de cinema por toda a França façam parte do instituto.
O Museu
O Museu Lumière está localizado na antiga mansão da família, construída por Antoine Lumière em 1899 em Monplaisir. Criado principalmente a partir da coleção de Paul Genard e da família Lumiére, ele apresenta hoje uma viagem sobre a história do cinema, através de vídeos, instalações e muita interatividade. Entre os objetos insólitos expostos na mansão estão as primeiras câmeras do mundo, um percurso pela invenção da fotografia em geral, além de dezenas de materiais de produção.
As salas de cinema
A grande sala das premières, criada em 1998, possui cerca de 300 lugares e é equipada com uma tela de 13 metros e som digital. Atualmente ela exibe premières, retrospectivas, festivais de filmes e até mesmo projetos de jovens cineastas. Cada cadeira leva uma placa com o nome de um grande nome da história da cinematografia.
O instituto também possui no subterrâneo da mansão a sala antiga (l’ancienne salle), dedicada a exibição das pérolas conservadas no acervo local. Com cerca de 100 lugares e quase 100 anos de idade, a sala é utilizada pelo menos duas vezes ao mês passando obras ancestrais em 16 mm e em preto e branco.
A biblioteca Raymond Chirat
Fundada pelo historiador do cinema Raymond Chirat, este centro de documentação foi instalado no antigo atelier de Antoine Lumière. É lá que os arquivos que não são filmes são guardados: livros, dossiês temáticos, fotografias, cartazes e objetos cênicos. Considerada uma das maiores e mais completas bibliotecas sobre cinema no mundo, ela também oferece uma ampla base de dados online para os seus visitantes. Uma equipe especializada está disponível todos os dias no lugar para ajudar os pesquisadores de cinema.
Outras atividades
O Instituto Lumière, junto a editora Actes Sud, também funciona como selo para a publicação de livros sobre cinema, publicando novos e tradicionais autores do gênero todos os anos. Paralelamente, o Instituto também lança grandes coletâneas em DVD de filmes clássicos tanto franceses quanto internacionais. Por fim lá também são realizadas muitas atividades de fim pedagógico, como aulas de cinema, ateliês de iniciação a linguagem cinematográfica, além de projeções e conferências para todos os níveis escolares.
Por que visitar?
O Instituto Lumière é um local essencial para qualquer apaixonado por cinema. Ainda sim, pessoas que não tenham muito interesse na história da sétima arte, ou que não gostem muito de filmes antigos terão pouco o que fazer lá. O museu é interativo e possui muitas peças interessantes a exposição, e também não é caro com ingressos saindo na faixa dos 3 euros.
Lyon é uma belíssima cidade, a capital da Gália Romana, se você vier visitar a cidade pelo seu gigantesco complexo de ruínas romanas (de aquedutos a anfiteatros) ou por seu centro medieval bem preservado, não se esqueça de fazer um desvio fora da sua rota para conhecer o Instituto Lumière.
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