À primeira vista “Fúria Primitiva” pode parecer um “John Wick à indiana”. De fato a franquia estrelada por Keanu Reeves está em meio à gama de inspirações que recaíram sobre Dev Patel (diretor, produtor, roteirista e protagonista do longa) no momento de criar essa trama de vingança. Porém, o longa vem imbuído de todo aquele espírito dos filmes de ação e pancadaria dos anos 1980, que faziam sucesso nos cinemas e nas locadoras. As fitas que estampavam nomes como Jean-Claude Van Damme, Steven Seagall, Michael Dudikoff e Lorenzo Lamas e se preocupavam mais com as lutas coreografadas e intensas do que com um desenvolvimento refinado das tramas.
Inspirado na lenda de Hanuman, um símbolo de força e coragem, Kid é um jovem anônimo que sobrevive em um clube de luta clandestino. Noite após noite, ele usa uma máscara de gorila e é brutalmente espancado por lutadores mais populares em troca de dinheiro. Após anos de raiva contida, Kid descobre uma maneira de se infiltrar no círculo da elite sinistra da cidade. É a chance de suas mãos misteriosamente marcadas iniciarem, finalmente, uma campanha explosiva de vingança contra os homens que lhe roubaram tudo.

O filme foi originalmente planejado para ser lançado diretamente no streaming pela Netflix, que tem sido o destino de produções do gênero, até que Jordan Peele assistiu e, sentindo que ele merecia um lançamento nos cinemas, o adquiriu da Netflix sob o selo de sua produtora Monkeypaw Productions, que tem um acordo de distribuição com a Universal Pictures.
Em sua estreia na direção de longas, Patel demonstra escolhas corretas, segurança nas cenas de ação, embora seja possível notar que, em diversos momentos, bebe na estética usada por Danny Boyle em “Quem Quer Ser um Milionário”, filme que protagonizou, tornando-se famoso. É inegável que certos movimentos de câmera praticamente emulam os que foram vistos no vencedor do Oscar de 2009, que por sua vez, indiscutivelmente se inspirou no nosso “Cidade de Deus”, e o próprio diretor não negou na época. Já a fotografia remete à série John Wick, assim como algumas coreografias nas cenas de luta.

De fato a originalidade não é o forte de “Fúria Primitiva”. Além das semelhanças artísticas com outras obras descritas acima, o desenrolar da trama é previsível, sobretudo para quem já tem uma certa experiência com essa linha de filmes de ação. Os vilões são os mais caricatos possíveis e o desenvolvimento dos personagens é algo com o que não houve preocupação. No entanto, não se pode esperar algo diferente disso dentro da proposta apresentada.
Dev Patel começou a treinar Taekwondo quando tinha 10 anos de idade. Ele conquistou a faixa preta 1º dan em 2006, aos 16 anos, o que serviu para dar credibilidade às cenas de luta feitas em boa parte pelo próprio, o que também resultou em diversas lesões durante as filmagens, incluindo uma mão quebrada, dois dedos do pé quebrados, um ombro deslocado e uma infecção ocular. Isso sem contar que precisou driblar cortes de orçamento filmando várias tomadas com GoPro e iPhone, no melhor estilo do it yourself.

Não apenas os clássicos das artes marciais serviram de inspiração, mas também o cinema bollywoodiano (outra fonte em comum com “Quem Quer Ser um Milionário”) e histórias que Patel, quando menino, ouvia de seu avô.
Por fim, “Fúria Primitiva” se sai bem como tributo a um gênero que já chegou a ser dado como ultrapassado e quase morto, mas, como podemos ver, ainda consegue arregimentar adeptos. E Dev Patel pode perfeitamente seguir se aperfeiçoando como diretor.








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