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“Gabriel e a Montanha” e humanidade que há na história real

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Há uma dimensão metafórica contida no título de Gabriel e a Montanha, longa de Fellipe Barbosa, que continua fazendo de seu cinema uma reverberação de suas questões mais pessoais. Depois de Casa Grande, no qual revisitou as percepções da infância para abarcar as fortes tintas sociais que gravitavam sobre si (sem contar o documentário Laura, em que faz um verdadeiro estudo sobre a figura de uma amiga excêntrica de New York), aqui ele reconstrói a trajetória real de um antigo colega de escola, Gabriel Buchmann, um economista que partiu numa viagem à África para estudar a pobreza sobre a perspectiva de vivência social.

A viagem ganha contornos trágicos uma vez que Gabriel jamais retornou de lá, morrendo por causa de uma hipotermia ao escalar o traiçoeiro Monte Mulanje, no Malawi. O diretor inclusive, já abre o filme com um plano aberto que vai descortinando a mata até encontrar o corpo de Gabriel (interpretado bravamente por João Pedro Zappa) já sem vida na montanha.

Dali seguimos no desenvolvimento que Fellipe vai empreendendo sobre Gabriel. Mais sobre quem ele era do sobre o caminho até a morte em si. Ainda que entendemos o quanto uma coisa fatalmente levou a outra. O roteiro, que se divide em quatro capítulos (Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malawi), acompanha o processo de imersão do protagonista com o país estrangeiro, mas o diretor não se furta de investir numa humanidade bem crível de Gabriel, especialmente com a chegada da namorada (Caroline Abras, sempre ótima).

Há uma dose de arrogância, intransigência e muita contradição misturados com generosidade e um impressionante viés desmedido na forma dele levar a vida. Esse contraste, embasado pela dramaturgia de sua história, engrandece a biografia como relato pessoal de uma visão íntima de Barbosa sobre Buchmann. Usar as locações reais – nas últimas cenas isso se mostra absolutamente comovente – e pessoas que de fato cruzaram com Gabriel na época, ou seja, não atores, enternecem pela interessante opção por fazer uma espécie de metalinguagem documental da história real dentro de sua estrutura ficcionalizada.

Entre o Gabriel e a montanha há uma dimensão que Fellipe Barbosa soube bem expressar. O filme está contido nessa sensibilidade. Dele e da própria realidade.

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