O tema da superação é irresistível ao cinema, pois dele é possível extrair características como heroísmo, redenção, despertar motivação, coisas que sempre irão mexer com as plateias. Contar a história de alguém que vence as adversidades, aparentemente intransponíveis, mobiliza os corações e até servem de inspiração para a vida real. Quando a história é baseada em uma epopeia real, a força da narrativa só aumenta – vide o filme “À Procura da Felicidade” com Will Smith, que conta o drama (real) de um homem à procura de emprego, com um filho pequeno e que chegou literalmente ao fundo do poço para sair triunfante.
“A Grande Vitória” (Brasil, 2014), de Stefano Capuzzi, segue essa linha: narrar a trajetória de um herói que sobrepuja os obstáculos que se colocam em seu caminho desde cedo e se torna bem sucedido. No caso trata-se da história real do judoca paulista Max Trombini, registrada no livro de sua própria autoria “Aprendiz de Samurai”, que serviu de base para o roteiro.
Max cresceu pobre em Ubatuba, filho de uma mãe solteira e com uma forte relação de afeto com o avô, que funcionou como substituto da figura paterna ausente. A morte do mesmo deixa o menino revoltado, se envolvendo em brigas na escola, até que a mãe, seguindo conselho da diretora, resolve colocar o menino no judô, apesar dos parcos recursos financeiros. Já crescido, ele começa a sonhar alto, desejando ser medalhista olímpico no esporte, o que o leva à cidade de Bastos para treinar com o professor referência na categoria. Porém, seu pai, agora dono de um parque em Ubatuba, está de volta à cidade, e isso deixa Max bastante abalado. Esse é um filme de estreia para os principais envolvidos. É o primeiro de Capuzzi como diretor e o debut do galã global Caio Castro no cinema.
É possível notar que Capuzzi tem como influência Walter Salles e Breno Silveira, mas sua inexperiência como diretor e roteirista é logo sentida. O filme tem uma linguagem narrativa que lembra um especial feito para a TV. Todos os clichês de um filme de superação estão ali: os closes “dramáticos”, as frases de efeito, a trilha sonora feita para emocionar e que sobe o tom como que dando a deixa (“hora de tensão”, ou “hora da comoção”). Ao longo da projeção vem a suspeita de que o diretor se inspirou no título de uma música do quarto disco da banda britânica Cornershop, “Lessons Learned From Rocky I To Rocky III”. Ele tenta imprimir o tom épico e heroico da série de filmes estrelada por Sylvester Stallone, mas se utilizando de uma receita de bolo que, se não for preparada pelas mãos certas, resulta em um sabor aguado. Há uma cena em que os judocas treinam correndo em uma estrada no interior e o diretor ataca com uma câmera lenta que pode até extrair risos involuntários. O momento em que Max se imbui de coragem e tenta ir ao encontro do pai (que está fechando o parque), cai uma chuva torrencial para aumentar a dramaticidade – o que chega a ser constrangedor.
Em relação ao elenco, o maior destaque é o avô de Max, vivido por Moacyr Franco. São os momentos iniciais do filme, que contam com o ator em cena, que dão esperança de vir algo bom no decorrer do longa. Tanto que, com o avançar da trama, é inevitável uma torcida para que ele volte, mesmo que na forma de um fantasma como Obi Wan Kenobi de “Guerra nas Estrelas”. Suzana Pires (outra atriz de talento do elenco) defende o papel da mãe de Max com bastante dignidade, sem cair na armadilha do exagero no tom. É um personagem dramático sim, mas a experiência da atriz faz com que ela reconheça que não é necessário carregar nas cores quentes, sob o risco de escorregar na histeria. Também merece destaque a atuação de Tato Gabus Mendes, que interpreta o professor de judô de toda a vida de Max, com simpatia cativante.
Porém, bons coadjuvantes não são o bastante quando todo o foco da trama está todo no protagonista e este é interpretado por alguém quase iniciante. Caio Castro ainda precisa amadurecer como ator, e indubitavelmente ainda não estava preparado para um papel de protagonista que demanda um certo peso dramático. O ator, porém, se sai bem nas cenas de judô, já que pratica o esporte desde os sete anos de idade, e por isso sequer precisou de coach para prepará-lo para as cenas de combate. Ele até se esforçou, fez laboratório morando com o Max da vida real (que faz uma participação no filme como o professor de educação física da escola) durante um mês, mas infelizmente o resultado final ficou muito aquém do necessário. Sabrina Sato, em sua segunda experiência como atriz, aparece apenas no final como Alice, o par romântico. Não chega a fazer feio, mas não acrescenta nada à história da forma como sua personagem é ali inserida (o que é estranho, uma vez que o cartaz vende equivocadamente a história dos dois como parte essencial do filme). A Alice da vida real, contudo, foi uma das personagens chave na vida do atleta.
Ao final da exibição, o espectador sairá com a impressão de que assistiu a um filme motivacional patrocinado pela Confederação Brasileira de Judô, com contornos de novela das nove e filosofia rala. No fim, o que deveria ser uma narrativa emocionante leva um ippon, o “nocaute” de judô, por sua fragilidade.
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