“Hebe: A Estrela do Brasil” exalta, mas não investiga a memória da apresentadora

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Personalidade das mais representativas da História da TV brasileira, a apresentadora Hebe Camargo ganha um recorte de sua vida, sobretudo no período de redemocratização do país, em meio aos reflexos disso no universo a qual fazia parte.

Hebe: A Estrela do Brasil se mimetizara exatamente nessa período de sua vida, buscando ressoar sua persona luminosa em contraste com suas questões pessoais. Com roteiro de Carolina Kotscho e direção de Maurício Farias, o filme debruça-se mais pelo que ela representava como artista – sobretudo em suas defesas políticas e sociais e desagravo com a patrulha do governo militar sobre seu conteúdo – do que a mulher, pincelado pelo drama de seu relacionamento com um marido possessivo e alguma ausência na criação do filho único, Marcelo.

Essa inclinação pode ser justificada pelo fato da vida da artista ter se dado no palco, para além da intimidade, mas é inegável que a sensação de que uma Hebe mais íntima, por trás de todo aquele brilho que ela tanto ostentava, poderia ser mais explorada. Farias tem uma visão até interessante de sua direção do todo, investindo em takes com ela de costas, numa percepção diferente da apresentadora sempre de frente para as câmeras.

Andrea Beltrão está impressionante com sua Hebe. Sua atuação é construída na meticulosidade da incorporação. Carisma, que Hebe tinha de sobra, sendo a principal característica dela, é bem mais difícil de interpretar, mas a atriz expande a personalidade para além de uma imitação. É potencialmente uma das interpretações mais geniais de um atriz já tão vasta em recursos.

Há uma visão mais chapa branca da apresentadora, sobretudo de suas escolhas políticas, só citada mas nunca aprofundada. O roteiro parece querer reduzir o assunto ao enfoque de sua fala: “Não sou de direita, nem de esquerda. Sou direta!”. Resulta incompleto.

Na excentricidade do estado de espírito reluzente de Hebe, sua biografia funciona, mesmo que limitada. Com um belo trabalho de direção de arte de Luciane Nicolino e figurinos (originais da própria Hebe) de Antônio Medeiros, o filme com certeza, arrancaria um belo sorriso de aprovação da própria. Talvez só não seria capaz de fazê-la refletir com uma auto-crítica.

Cotação: Bom (3,5 de 5)

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