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“Homem Irracional” é irregular, mas ainda é muito Woody Allen de ser

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Woody Allen sempre deixou claro a acepção da filosofia para construir os discursos implícitos em todos os seus filmes. Essa perspectiva se faz presente de forma menos sutil em seu novo filme, Homem Irracional, o que acaba influenciando até na forma como conduz sua narrativa.

O longa acompanha Abe (Joaquin Phoenix), um professor de filosofia que faz muito sucesso com os alunos, com seu jeito desleixado e sua postura contestadora em relação aos outros filósofos.

Cético ao extremo, ele ganha a admiração de uma aluna, Jill (Emma Stone, maravilhosa), mas tem dificuldade para encontrar uma motivação palpável para a vida – o que gera uma cena marcante, numa brincadeira de roleta russa. O ponto de virada vem quando idealiza o que julga ser o crime perfeito e, a partir daí, tem um interesse renovado pelo mundo.

A pretensão filosófica briga o tempo todo com a expertise de Allen em tirar insumos existencialistas de suas histórias. O cineasta é um gênio dos intertextos contidos em suas histórias. Mas aqui, erra no tom.

A premissa – como percebemos na meia hora final do filme – carece da urgência do thriller e Allen parece querer relativiza-la pecando pelo tom cômico-filosófico que torna dissonante a intenção (declamações e divagações) da ação (causas e efeitos). Por isso a primeira metade do longa é mais banal. Ao tomar as rédeas do gênero para concluir sua trama, o filme ganha densidade e faz mais sentido. Sentido esse, auxiliado pela pontual fotografia de Darius Khondji e o uso comedido de trilha sonora (abrindo mão do jazz costumeiro).

Quando quis focar mais na metáfora e menos denotação, Allen fez grandes filmes como Crimes e Pecados e a obra-prima Ponto Final – Match Point, de temáticas parecidas com esse Homem Irracional. Entretanto, não existe filme propriamente ruim do cineasta. Esse, é nitidamente irregular, mas deixa sobressair que mais que uma identidade, Woody Allen ainda tem o poder de tirar de seus filmes complexas gamas de identificação.

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