“Jackie” procura a humanidade da mulher diante do luto do mito

Uma das cenas mais impressionantes de “Jackie”, cinebiografia da ex-primeira dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy, dirigida pelo chileno Pablo Larraín (de “No” e “Neruda”), se dá quase no final do filme. É a chocante cena do assassinato de seu marido, John F. Kennedy, alvejado em carro aberto, bem ao seu lado. Jackie, com o rosto todo sujo de sangue,…


Uma das cenas mais impressionantes de “Jackie”, cinebiografia da ex-primeira dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy, dirigida pelo chileno Pablo Larraín (de “No” e “Neruda”), se dá quase no final do filme. É a chocante cena do assassinato de seu marido, John F. Kennedy, alvejado em carro aberto, bem ao seu lado. Jackie, com o rosto todo sujo de sangue, tenta catar os miolos do marido que se espalham pelo capô do carro e vai, sofregamente, botando de volta em sua cabeça gravemente ferida, como se pudesse remediar a tragédia que acabara de acontecer. É uma cena bem impactante e que resume absolutamente o recorte que o diretor quer abranger sobre essa mulher.

Em seu primeiro filme de língua inglesa, Larraín estrutura esse recorte através de cortes não lineares e close ups, promovendo uma espécie de radiografia atmosférica de Jackie, diante da morte do marido. Partindo de uma entrevista que ela concede a Revista Life, uma semana depois do ocorrido, vemos uma Jackie ainda dilacerada pela impacto do que aconteceu, o que a expressa com muita intensidade em sua sensibilidade e resiliência. Assim, o roteiro (de Noah Oppenheim, de A Série Divergente: Convergente), usa constantemente a metáfora da história de Camelot para reforçar esse reflexo causal entre os fatos e a vida de Jackie.

Natalie Portman faz um trabalho claramente difícil de composição, e se sai gloriosa na acepção dessa complexidade emocional. Ainda mais sendo o filme todo emoldurado em cima de sua dor. Nesse sentido, o longa às vezes pesa em sua densidade, mesmo com a sólida estetização que Larraín propõe, com fotografia granulada, figurino com deslumbramento fiel ao período e uma trilha (de Mica Levi) etérea e dramática. Esse recorte acaba por querer representá-la mais do que dar alguma dimensão ao que a tragédia incide sobre a primeira dama. Por outro lado, os fatos são tão dramáticos que já extraem de sua representação a humanidade que o mito escondia da mulher.

Jackie é um filme triste sobre qualquer perspectiva. Larraín sabia disso e colou sua câmera nos olhos de sua atriz. São eles que revelam toda a perplexidade e complexidade contidas nessa vida e nessa História.

Filme: “Jackie” (Idem)
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Greta Gerwig
Gênero: Drama biográfico
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Diamond Filmes
Duração: 1h 40min
Classificação: 14 anos


Uma resposta para ““Jackie” procura a humanidade da mulher diante do luto do mito”

  1. Avatar de Marcelo Alvim Tchelos
    Marcelo Alvim Tchelos

    Ambrosia, sorry, além de triste, eu diria mais, chato demais, claustrofóbico, argh, rsss, esse foi difícil pra mim de ver

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