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“Jason Bourne” vale pela volta de Matt Damon e Paul Greengrass

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Depois de conseguir acabar com a desconfiança inicial de crítica e público como um improvável heróis de ação, com uma trilogia inspirada numa série de livros de Robert Ludlum, Matt Damon obteve seus maiores sucessos comerciais com “A Identidade Bourne” (2002), “A Supremacia Bourne” (2004) e “O Ultimato Bourne” (2007), como um agente com grandes habilidades que perde a memória e tenta entender o que aconteceu com ele (ao mesmo tempo em que tenta fugir de pessoas envolvidas com um programa responsável pelo seu treinamento).

A série também se destacou graças ao talento do cineasta Paul Greengrass, que realizou a segunda e a terceira partes da franquia e as deixou mais “pé no chão”, a ponto de se tornar referência. Tanto que grande parte das produções de ação passou a seguir a “cartilha” criada por Greengrass. Até mesmo James Bond foi afetado por isso, o que forçou o personagem a se adaptar aos “novos tempos” e a estratégia acabou dando certo, consagrando Daniel Craig como 007 com quatro (até agora) filmes bem sucedidos comercialmente.

Por isso, não foi uma grande surpresa quando os produtores da franquia Bourne decidiram continuar a saga do espião, mesmo esgotando as possibilidades criadas por Ludlum em seus livros. Mas o que não estava no programa era a desistência de seu astro e do diretor, que partiram para outros projetos. Foi então que a Universal Pictures, estúdio responsável pela série, decidiu fazer “O Legado Bourne” em 2012, com um novo herói (Jeremy Renner) e uma história derivada da trama original. O filme teve um sucesso regular e já até garantiu uma continuação, prevista para 2018 e parecia que a série iria prosseguir desta maneira.

Porém, para a surpresa geral, tanto Damon quanto Greengrass decidiram voltar à franquia por acharem que havia algo a mais para contar sobre o agente desmemoriado. O resultado é “Jason Bourne” (idem, 2016), que ignora completamente o filme anterior, e retoma a trama como uma sequência direta de “O Ultimato Bourne”. O filme comprova, mais uma vez, o carisma do ator e a eficácia do diretor em conduzir ótimas e complexas cenas de ação incessante, que fazem com que essa continuação não seja uma sequência qualquer, mesmo com pouca inovação em relação às tramas anteriores.

Quando a história começa, vemos Bourne (Matt Damon) vivendo como um andarilho, participando de lutas ilegais para sobreviver. Mas isso não dura muito tempo porque a especialista em computadores Nicky Parsons (Julia Stiles), que o ajudou no terceiro filme, ressurge com informações sobre o envolvimento de seu pai, Richard (Gregg Henry), no projeto Threadstone, que mudou a sua vida, e que, por isso, ele tenha sido assassinado.

A dupla acaba sendo localizada na Grécia pela CIA, graças à agente Heather Lee (Alicia Vikander), que passa a trabalhar diretamente com o diretor da agência, Robert Dewey (Tommy Lee Jones), num plano para capturar os dois, antes que eles revelem mais segredos. Enquanto tenta descobrir o que realmente aconteceu com o seu pai, Bourne também precisa se livrar de seus algozes e lidar com um agente conhecido como Contato (Vincent Cassel), que tem contas a acertar com ele.

Embora essa continuação tenha uma certa pinta de caça-níqueis, já que boa parte dos mistérios do protagonista já foram solucionados anteriormente, “Jason Bourne” é uma sequência relevante não só pela ótima qualidade técnica, mas também por tornar sua trama mais conectada a certas questões pertinentes com o mundo atual.

O filme trata de alguns temas como a crise econômica que assola a Europa. Um dos melhores momentos acontece durante um protesto violento na Grécia, país que tem sofrido bastante com a pobreza da população e o desemprego. Neste cenário, Greengrass encena o conflito com muita veracidade, de uma forma quase documental, e mistura com bastante excelência a ação, já que Bourne e Nicky precisam escapar de uma ação perigosa da CIA. O resultado é um momento bem eletrizante.

Outro ponto positivo e atual do filme está no personagem Aaron Kalloor, interpretado por Riz Ahmed, da série da HBO, “The Night of”. Com o jovem empresário, um amálgama de Mark Zuckenberg, Steve Jobs e Bill Gates, Greengrass (que também escreveu o roteiro, junto com Christopher Rouse) quer discutir a relação entre as redes sociais e a privacidade na internet, algo que tem sido bastante debatido a respeito de seus limites, e personalidades como Edward Snowden e Julian Assange chegam a ser mencionadas. O assunto é tratado de uma maneira clara que, embora não seja totalmente aprofundada, ajuda a tornar a trama bem mais interessante do que a maioria dos blockbusters lançados recentemente.

O único porém de “Jason Bourne” é que o filme tem uma construção bem semelhante à dos filmes anteriores, que podem dar uma sensação de “déja vu”. A história acontece da mesma forma vista previamente, o que estraga um pouco da surpresa. Mesmo assim, não tem como ficar indiferente do que é mostrado na tela, especialmente na parte final, onde acontece uma sensacional perseguição de carros na Las Vegas Boulevard, realizada de uma forma impecável, tanto na direção quanto na edição e efeitos sonoros, algo que sempre se destaca na série. O resultado ficou nada menos que bastante envolvente.

No elenco, Matt Damon mostra mais uma vez porque nasceu para viver Jason Bourne. Além de se sair muito bem nas cenas físicas, o ator consegue tornar crível a revolta de seu personagem à medida que descobre novos segredos e que é alguém realmente frio e perigoso, mesmo com a aparência de um “homem comum”.

Tommy Lee Jones, embora surja na tela com uma aparência cansada, se impõe como um homem sério e intimidador. Alicia Vikander, estreante na série, passa bem a tensão e a ambiguidade de Heather Lee, mesmo com poucas expressões faciais e pode vir a crescer nos próximos capítulos (se eles acontecerem, claro). Vincent Cassel faz o que pode como o assassino profissional da vez e Julia Stiles não tem muita oportunidade para fazer algo de diferente com sua Nicky Parsons.

“Jason Bourne” pode não ser o melhor filme da série, nem o melhor filme de ação do ano. Mas tem qualidades suficientes para estar acima da maioria dos arrasa-quarteirão fracos lançados em 2016. Resta saber como a franquia conseguirá se tornar novamente relevante nos próximos anos. Talvez quando decidirem, finalmente, juntar Bourne com Aaron Cross numa única história. Enquanto isso não acontece, dá para curtir essa nova parceria entre Matt Damon e Paul Greengrass (que também rendeu “Zona Verde”) sem maiores problemas. Vamos ver se eles ainda podem surpreender no futuro.

Filme: Jason Bourne (Idem)
Direção: Paul Greengrass
Elenco: Matt Damon, Alicia Vikander, Vincent Cassel, Tommy Lee Jones
Gênero: Ação
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 2h 03min
Classificação: 14 anos

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