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“Kingsman: O Círculo Dourado” mantém o nível de diversão do primeiro filme

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Taron Egerton, left, and Mark Strong star in Twentieth Century Fox's "Kingsman: The Golden Circle."
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Uma das mais gratas surpresas de 2014, “Kingman: Serviço Secreto” trazia uma bem azeitada combinação de comédia e ação alucinante, criada a partir dos quadrinhos de Mark Millar e conduzida com a mão precisa de Matthew Vaughn, que vem se revelando um dos diretores mais interessantes a surgir no mundo maravilhoso dos blockbusters. Com o sucesso de público e crítica, era inevitável que a Fox, produtora do filme, quisesse uma continuação dos agentes britânicos que são especialistas em elegância, boas maneiras e chutar traseiros.

Três anos depois, chega a vez de “Kingsman: O Círculo Dourado” (“Kingsman: The Golden Circle”) mostrar o que aconteceu depois dos eventos da aventura anterior. Felizmente, o resultado é bastante satisfatório, pois Vaughn e sua equipe entregam uma divertida história, com tudo que funcionou no filme original, o que deixará os fãs com um sorriso de orelha a orelha ao final da sessão.

Na trama, Gary ‘Eggsy’ Unwin (Taron Egerton) já está estabelecido como um agente da Kingsman e divide a sua vida entre o seu trabalho e o romance com a princesa sueca Tilde (Hanna Alström), que ele salvou das mãos de Richard Valentine (Samuel L Jackson) no filme anterior. Só que seu mundo literalmente desmorona quando um inesperado ataque destrói o quartel-general da Kingsman e mata todos os seus integrantes, com exceção dele mesmo e de Merlin (Mark Strong). Na verdade, quem orquestrou tudo foi a poderosa (e perigosa) líder de um grupo chamado Círculo Dourado, Poppy Adams (Julianne Moore), que, assim como Valentine, tem uma ideia mirabolante para conquistar o mundo.

Atordoados e tentando encontrar respostas para o que aconteceu, Eggsy e Merlim descobrem que há uma outra agência de espiões que fica nos Estados Unidos e se chama Statesman, comandada por Champ (Jeff Bridges), e também conta com Tequila (Channing Tatum), Whiskey (Pedro Pascal), além do apoio técnico de Ginger Ale (Halle Berry). Os dois pedem ajuda aos colegas americanos para saber quem está por trás do atentado e quais são os seus reais planos. Mas o que eles não contavam é que a Statesman mantém em cativeiro Harry Hart (Colin Firth), que deveria estar morto. Só que o mentor de Eggsy não é mais o mesmo, como o próprio jovem irá constatar.

O que torna “Kingsman: O Círculo Dourado” uma sequência digna do original é que ele consegue manter o mesmo ritmo da primeira parte, com uma ação incessante que não dá descanso a ninguém e preserva o interesse pela história do início ao fim. Apesar de abusar bastante de efeitos especiais e computação gráfica (que não se destacam em 3D, para quem for ao cinema ver essa versão do filme), é possível constatar a energia e a criatividade da direção de Matthew Vaughn, especialmente nos momentos mais polêmicos da trama, que chegam a tratar de assuntos considerados tabus, como numa cena em que é possível ver uma mão boba passar pelas partes íntimas de uma mulher ou em outra sequência que (acredite) trata de canibalismo (!!!), que só deve ofender os espectadores muito sensíveis. Mas quem entrar na brincadeira criada por Vaughn e sua parceira de longa data, Jane Goldman, certamente não se sentirá mal de rir disso.

O roteiro, escrito pela dupla, aliás, passa por cima de muitas coisas politicamente corretas e faz graça disso. A trama brinca mais uma vez com os clichês de filmes de espionagem com bom humor e diverte até com os codinomes dos agentes da Statesman, todos relacionados a bebidas alcoolicas. Isso sem falar na participação do cantor Elton John, que rende muitas gargalhadas e contar mais detalhes, além de estragar a surpresa, tiraria a graça que o astro britânico proporciona. Para quem curte easter eggs. Repare em elementos ligados às canções clássicas do intérprete.

Além disso, Vaughn e Goldman também fazem uma sutil alfinetada nos chefes de Estado, que usam a demagogia e o uso da força para lidar com questões delicadas que mexem com a vida de milhões de pessoas. É nesse contexto em que nada é preto ou branco, apenas cinza, que o que restou da Kingsman tenta continuar existindo, nem que seja para resolver tudo no braço, como aliás fazem muito bem.

O único porém do filme é que ele não traz, a grosso modo, grandes novidades em relação ao primeiro filme. Praticamente tudo que surpreendeu há três anos atrás é utilizado novamente, dando aquela velha sensação de déja vu e que pode frustrar parte do público. Além disso, a explicação sobre o retorno de Harry é um pouco simplista demais, embora seja muito bom vê-lo de volta mesmo assim. Há também o problema do subaproveitamento de alguns personagens que, aparentemente, teriam mais participação ou importância na história, mas são sacados da trama de uma hora para outra, sem a menor cerimônia. Mesmo com esses problemas, o saldo final é bem positivo.

No elenco, Taron Egerton mantém o bom trabalho que desempenhou no primeiro “Kingsman” como Eggsy, com seu jeito folgado misturado com a elegância adquirida por se tornar um agente secreto. Mark Strong também mostra seu talento como um Merlin tentando se adequar aos novos tempos, enquanto Colin Firth, mais uma vez, manda bem como um agora Harry Hart sem saber direito quem é ou que fazer de sua vida. Do lado dos Statemen, Jeff Bridges faz o de sempre, exagerando no sotaque interiorano de seu personagem (o que, aliás, tem sido constante em seus últimos papéis), enquanto Channing Tatum até que diverte como Tequila, assim como o Whisky de Pedro Pascal. Já Halle Berry está discreta como Ginger Ale e, se não se destaca, pelo menos não atrapalha com sua atuação.

Mas quem rouba a cena, certamente, é Julianne Moore, muito melhor como vilã aqui do que no sem sal “O Sétimo Filho”. A atriz vencedora do Oscar convence como a mulher que está sempre com um sorriso no rosto, não importa a situação, mas que se revela uma pessoa rancorosa e extremamente sádica e vingativa, mesmo não levantando a voz em nenhum momento. A escalação de Moore para o papel é, certamente, um dos grandes acertos do filme, que também conta com um sensacional design de produção, especialmente nos cenários que compõem a Statesman e no covil de Poppy.

No final das contas, “Kingsman: O Círculo Dourado” garante a diversão por pouco mais de duas horas (que passam rapidinho) graças ao bom humor, ótimas cenas de ação (embora nenhuma delas supere a sequência na igreja do primeiro filme) e um elenco que nunca deixa a peteca (ou seria a bomba atômica?) cair, ao som de muita boa música pop, como na produção original. Ao que parece, temos mais uma franquia estabelecida e que deve gerar mais frutos (refinados e elegantes, claro) nos próximos anos. É esperar para ver.

Filme: Kingsman: O Círculo Dourado (Kingsman: The Golden Circle) 
Direção: Matthew Vaughn
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Taron Egerton
Gênero: Ação e Aventura
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Fox
Duração: 2h 21min
Classificação: 14 anos

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