Kung Fu Panda 4 é diversão ligeira que aposta na fórmula fácil

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Continuações são o principal motor da indústria de blockbusters hollywoodianos. A cada franquia que dá certo, é mais uma certeza de que o estúdio precisará quebrar menos a cabeça para criar algo novo. “Kung Fu Panda 4” se encaixa na modalidade de sequências que faz os estúdios se derramarem em regozijo, que é a de animações. Em um desenho animado você não precisará reescalar um elenco porque o original envelheceu, ou criar um personagem jovem para gerar empatia com o público mais novo, já que o protagonista já se encontra em idade de ser pai (ou avô) da audiência destinatária. O grande problema é que tais franquias animadas costumam se mostrar preguiçosas conforme se alongam, provavelmente por conta dessa facilidade. Com a nova aventura do panda Po não é diferente.

Desta vez, Po está se preparando para assumir o papel de líder espiritual no Vale da Paz, mas também precisa encontrar alguém para sucedê-lo como Guerreiro Dragão. Ele se propõe a treinar um novo praticante de kung fu para essa posição, enquanto enfrenta uma vilã conhecida como Camaleã, capaz de se transformar em qualquer coisa e de invocar vilões do passado.

Como se vê, nada de novo ou inovador é apresentado na tela. Assim como em Kung Fu Panda 3, embora ali houvesse a questão da vila dos pandas e do pai biológico de Po, que acrescentava algo à jornada do protagonista. Esse aqui parece um episódio de série animada feita para a TV ou para o streaming. Um orçamento menor, mostrando que o estúdio não estava preocupado em gastar o mínimo e lucrar o máximo, apostando em uma fórmula fácil e confortável. Não que os longas anteriores fossem o máximo da inventividade, mas o frescor e o carisma dos personagens conferiam um brilho que já não é mais sentido.

A dupla de diretores Mike Mitchell (“Shrek Para Sempre”, “Trolls”) e Stephanie Stine (“She-Ra e as Princesas do Poder”) até se esmeraram em aprender todos os maneirismos estabelecidos nos longas anteriores, mas acabaram por apenas repetir a dinâmica de planos e enquadramentos, como se estivessem seguindo um manual de como emular o filme de 2008. Os roteiristas Jonathan Aibel, Glenn Berger e Darren Lemke, cientes de que não haveria muito o que acrescentar, apelaram para a nostalgia – 16 anos já permitem que ela seja evocada. No entanto, a trama tem tudo para divertir o público-alvo que claramente são as crianças menores. O ritmo ágil, que em alguns momentos lembra os animes e games, coqueluches entre as gerações Z e Alpha, funciona para prender a atenção da turminha acostumada com velocidade de informação.

Um ponto que deve ser observado é que a qualidade da animação não foi tão afetada pela diminuição do orçamento. Foram US$ 85 milhões contra os US$ 145 milhões do último e os US$ 130 milhões do primeiro, e já é possível dizer que foi um bom custo benefício para a Universal, uma vez que já conta com um faturamento mundial bruto de mais de US$ 200 milhões. Isso pode apontar para uma política de menos gastos em Hollywood, depois de um 2023 com superproduções de alto custo não tendo o retorno esperado.

No mais, o urso panda Po continua carismático, a relação entre seus dois pais – o adotivo, um pato, que conhecemos desde o primeiro longa e o biológico, que surgiu no filme 3 – rende momentos engraçados. A vilã tinha potencial para render algo ainda mais interessante, mas preferiram a superfície, justamente para não gerar complexidade em um produto, repito, com foco nas crianças. A cópia exibida para a imprensa foi dublada, com Lúcio Mauro Filho interpretando competentemente o protagonista que no áudio original tem a voz de Jack Black. Outros personagens ficaram um pouco a desejar por conta da decisão equivocada de se convocar famosos para a função. Lembrando que ao contrário dos EUA onde a animação é feita em cima das atuações, aqui ela já chega pronta, o que exige a técnica dos profissionais da dublagem.

Por fim, “Kung Fu Panda 4” é o capítulo mais fraco da franquia, mas ainda assim consegue divertir os mais novos e não entediar completamente os pais, que talvez não aproveitem tanto quanto no filme original, mas o andamento ligeiro e a curta duração (1h34) de certa forma amenizam os pontos fracos. E como o resultado comercial está sendo bastante positivo, a tendência é que não haja grandes mudanças ou ousadias criativas na já certa continuação. Os fãs de primeira hora lamentam, mas para eles fica o acolhimento nostálgico que foi incorporado à fórmula.

Kung Fu Panda 4

Kung Fu Panda 4
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Nota - 6/10: Bom
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