Soi Cheang, conhecido por trazer a trilogia de fantasia e ação do Rei Macaco (A Lenda do Rei Macaco: Tumulto no Reino Celestial, 2014;O Rei Macaco 2: A Lenda Continua, 2016; e O Rei Macaco: A Lenda Começa, 2022), surpreende com um filme incrivelmente áspero, sujo, feral. Limbo, uma produção honconguês, em preto e branco que impressiona, abala a alma e dificilmente permite que o espectador escape ileso do seu ímpeto expressivo.
O padrão é bem conhecido, uma dupla de detetives precisam resolver um caso envolvendo um serial killer, entretanto a forma de apresentar a narrativa é inesperada. Hong Kong parece uma cidade quase distópica e abandonada, os subúrbios são um labirinto de vielas sujas, carros abandonados e muito lixo.
A cidade – perpetuamente na chuva – fecha-se sobre si mesma e seus habitantes parecem não conseguir se libertar de seus demônios interiores. O veterano detetive Cham Lau (Lam Ka-tung), em particular, está profundamente assombrado por um incidente que ocorreu com sua família. A responsável é Wong To (Cya Liu), uma garota cujo papel será crucial para que a polícia tente encontrar o serial killer que está apavorando a cidade.
Na verdade, no centro da trama do filme, encontramos a ação criminosa de um maníaco que estupra e tortura suas vítimas antes de assassiná-las. Sua marca registrada é a amputação de um membro e sua ação assassina é dirigida a mulheres marginalizadas.
A crise de identidade está claramente representada no filme de Soi Cheang, que se manifesta não só pela ideia de realizar uma verdadeira investigação social, mas também pelo esplêndido trabalho de caracterização dos personagens, como a relação entre o detetive Cham e sua colega Will (Mason Lee) que traz à mente – com as devidas diferenças – o que já foi visto em Se7en – Os Sete Pecados Capitais (1995).
Mais interessante e sem referência a outros filmes é a relação entre o Detetive Cham e Wong To. Explosão, abuso, violência são os princípios que guiam Cham em direção à jovem na maior parte do filme, até que se torne evidente sua necessidade de manter sua humanidade firme e de pôr fim à raiva irracional e à atribuição excessiva de culpa. A compensação violenta é o mantra que move tanto as ações do detetive Cham quanto as do cruel assassino em série, mas para o protagonista ainda parece haver uma possibilidade de redenção, que se encontra não apenas em si mesmo, mas também na relação direta com a alteridade.A exibição violenta torna-se assim uma crítica social talvez oculta demais nas dobras da história, mas ainda presente e permeável à reflexão do espectador. No entanto, apesar de ser uma obra intensa do ponto de vista autoral, Limbo não exerce pressão sobre o que está além do representado, evitando desvios pretensiosDivulgaçãoos de qualquer tipo, um filme impiedoso, que conecta a violência com as paixões, a estética com o inaceitável, e percorre um caminho repleto de nuances e segundas leituras que tem muito mais a ver com uma dor persistente do que com uma extração limpa e simples.
Nota: Ótimo – 3.5 de 5 estrelas
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