Dizem que os amigos são a família que a gente escolhe. E deste ditado tiramos a lição que não escolhemos nossa família: seja por sorte ou destino, nos é designado um grupo de pessoas com quem temos de conviver por algum tempo, por vezes até a vida toda. E é por essa designação mais ou menos aleatória que a família é assunto constante no cinema. Uma estreia recente, que parte mais uma vez de relações familiares para criar comicidade, é o filme francês Lola e seus Irmãos.
Lola (Ludivine Sagnier) é a mais nova de três filhos. Seus irmãos, Pierre (José Garcia) e Benoit (Jean-Paul Rouve), estão em pé de guerra por causa de uma gafe cometida por Pierre no casamento de Benoit. O ponto de encontro dos três irmãos para conversar é em frente ao túmulo dos pais deles e é a partir destes encontros que temos o desenvolvimento da trama do filme. Embora os irmãos não compartilhem uns com os outros todos os seus problemas, eles estão juntos, sempre dispostos a se apoiar mutuamente.
Lola, advogada de divórcios, está “conhecendo melhor” um ex-cliente. Benoit é optometrista numa óptica e vem tendo problemas com o novo maquinário que usa no trabalho, uma máquina que promete definir cientificamente a melhor cor para a armação dos óculos dos clientes. Pierre trabalha com demolições e a mais recente delas causou uma fenda enorme num prédio vizinho, o que está tirando o sono dele.
Então o relacionamento de Lola evolui e ela vai morar com o namorado. Benoit descobre que será pai e Pierre perde o emprego na mesma época em que seu filho adolescente vai estudar fora. E é isso que acontece: na primeira meia hora de projeção, não se desenha um conflito central unindo os irmãos ao seu redor, mas sim são apresentadas situações da vida real que afetam cada um deles.
Algumas situações, mais especificamente conflitos, são aventadas mas nunca desenvolvidas. Isso acontece quando a cunhada de Lola, Sarah (Pauline Clément) fala que Lola prefere seus homens “mais bronzeados” e também quando Sarah sai para jantar com as duas ex-esposas de Benoit. Ao mesmo tempo em que desvia de conflitos, a segunda metade do filme é mais engraçada, ainda que trate de assuntos sérios.
Lola e seus Irmãos foi dirigido por Jean-Paul Rouve, que também interpreta Benoit, o irmão mais bobão. Rouve também é um dos nomes que assinam o roteiro, que nada tem de extraordinário, mas que engaja e diverte. O outro roteirista é David Foenkinos, do sagaz O Mistério de Henri Pick, de 2019.
Lola e seus Irmãos é um filme sobre fraternidade em seu sentido literal. Em determinado momento, Benoit pergunta algo como “para que serve a família se não for para dividir tudo o que está acontecendo?” É por isso que Lola e seus Irmãos é um bom filme para se ver em família, como numa descompromissada tarde de domingo.
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